Gustavo Alonso

Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.

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Sertanejo pode remeter a Goiás, mas tem artistas de todas as regiões do país

Música mais popular do Brasil é feita pelos interioranos, e só o Rio de Janeiro não gestou nomes relevantes para o gênero

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A música sertaneja é feita por gente do interior do Brasil. Essa parece uma constatação óbvia. Quando se fala sobre música sertaneja quase sempre se pensa, desde pelo menos os anos 1990, em Goiânia. De fato, a capital de Goiás abraçou a música sertaneja forjando um império de escritórios, gravadoras e principalmente de know-how para explorar o gênero sertanejo.

Mas, se fizermos um balanço das origens dos sertanejos que estouraram no século 21, veremos que eles vieram das mais distintas regiões brasileiras, o que ilustra o grande poder de penetração da música sertaneja em todo o país.

Victor e Leo se criaram em Abre Campo, região da zona da mata mineira. Paula Fernandes veio do mesmo estado, mas é de Sete Lagoas. Os irmãos César Menotti e Fabiano nasceram, respectivamente, em Itapira, em São Paulo, e em Califórnia, no Paraná.

João Lucas nasceu em Miranorte, no Tocantins, e Marcelo, em Cáceres, em Mato Grosso. Gusttavo Lima é de Presidente Olegário, em Minas Gerais. Jorge e Mateus são de Itumbiara, em Goiás. Michel Teló é de Medianeira, no Paraná —embora tenha se criado em Campo Grande. Aliás, a capital de Mato Grosso do Sul é berço de vários sertanejos, entre eles Luan Santana, Munhoz e Mariano, Maria Cecília e Rodolfo.

Maiara e Maraísa nasceram em São José dos Quatro Marcos, em Mato Grosso, e passaram a infância e adolescência em diversas cidades do país, quase sempre no interior: Juruena e Rondonópolis, ainda em Mato Grosso, Araguaína, no Tocantins, Montes Claros, Governador Valadares e Belo Horizonte, em Minas Gerais.

Lucas Lucco nasceu em Patrocínio, em Minas Gerais. Simone e Simaria nasceram em Uibaí, na Bahia. Henrique e Juliano são de Palmeirópolis, no Tocantins. Zé Neto e Cristiano são de São José do Rio Preto, em São Paulo. Os irmãos Matheus e Kauan são de Itapuranga, no estado de Goiás.

Os irmãos Jads e Jadson nasceram em Catanduvas, no Paraná. Israel é de Goianésia e Rodolffo de Uruaçu, ambos de Goiás. Israel Novaes é nascido em Breves, no Pará. A música sertaneja é realmente feita pelos interioranos, não pelos metropolitanos.

No caso de duplas que não são irmãos ou familiares, Thaeme nasceu em Presidente Prudente, em São Paulo, e Thiago em Ijuí, no Rio Grande do Sul. Bruno e Barreto nasceram em duas cidades do interior do Paraná, Sertanópolis e Alvorada do Sul, respectivamente.

Chama a atenção que apenas dois artistas do primeiro time da música sertaneja sejam de São Paulo capital. Sorocaba, que apenas nasceu na capital paulista mas foi criado na cidade que lhe deu o apelido, faz dupla com Fernando, oriundo de Ji-Paraná, em Rondônia. E o paulistano Belutti, que formou dupla com Marcos, que é natural de Santo André, no ABC paulista.

No caso das duplas mais antigas o mesmo fenômeno se repete. Zezé Di Camargo e Luciano nasceram em Pirenópolis, em Goiás. Chitãozinho e Xororó são de Astorga, no Paraná. Bruno, da dupla com Marrone, nasceu na capital goiana, mas o parceiro é de Buriti Alegre, em Goiás.

Leandro e Leonardo nasceram em Goianápolis, também em Goiás. Rick é de Monte do Carmo, no Tocantins, e Renner, de Patos de Minas, em Minas Gerais. Edson e Hudson são irmãos nascidos em São José do Rio Pardo, em São Paulo.

O já morto João Paulo, que fez dupla com Daniel, ambos nasceram em Brotas, em São Paulo. Gian e Giovani são de Franca, em São Paulo, assim como Rio Negro e Solimões. Milionário nasceu em Monte Santo de Minas, em Minas Gerais, e José Rico é pernambucano de São José do Belmonte. Tonico nasceu em São Manuel e Tinoco em Pratânia, ambas no interior de São Paulo. No mesmo estado nasceram Cascatinha, em Araraquara, e Inhana, em Araras.

A dupla sertaneja Cascatinha e Inhana - Reprodução

Por sua vez, o Rio de Janeiro não tem nem sequer um representante na música mais popular do Brasil. Isso em parte explica porque a música sertaneja demorou tanto tempo para conquistar a cidade maravilhosa. Para se ter uma ideia do drama carioca, Michel Teló fez seu primeiro show no Rio de Janeiro pouco antes de sair do Brasil pelo aeroporto internacional do Galeão para fazer shows na Europa em função do sucesso mundial de "Ai Se Eu Te Pego", no início de 2012.

O Rio de Janeiro é outro país para a música sertaneja. O único artista sertanejo relevante com origens no Rio de Janeiro é Barrerito, integrante já morto do Trio Parada Dura. Ele nasceu na cidade interiorana de São Fidélis, no norte do estado.

Da Norte à Sul, todas as regiões do Brasil, estão representadas nas origens dos sertanejos. Cantada do Oiapoque ao Chuí, a música sertaneja atual é fruto da nacionalização do gênero nos anos 1990, quando a música sertaneja deixou de ser um produto regional do interior do centro-sul do país para atingir todos os grotões da nação.

A maior parte dos artistas ainda vem desta região original, mas há vários exemplos de artistas de outros quinhões consumindo e produzindo música sertaneja. Constatando esse fenômeno, fica mais compreensível por que esse gênero musical é, há algumas décadas, o gênero musical mais popular do Brasil. A música sertaneja, apesar de ter Goiânia como centro dinamizador, é sinônimo de música popular em quase todos os cantos do país.

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