Gustavo Alonso

Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.

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Descrição de chapéu

De Israel & Rodolffo a Luan Santana, sertanejos fazem shows nos rincões do país

Como já dizia Milton Nascimento, o artista precisa ir aonde o povo está e por isso é alta a milhagem desses músicos

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Milton Nascimento já cantou que todo artista deve ir aonde o povo está. Dificilmente algum artista da MPB, rock, samba ou funk foi mais atrás do povo do que os artistas da música sertaneja.

Com o gradual fim da pandemia do Covid-19, os shows começam a ser retomados nos padrões de antigamente. Basta visitar os sites dos principais artistas sertanejos e ver a agenda de shows marcados para perceber o quanto os sertanejos rodam os quatro cantos do Brasil. Das pequenas e médias cidades às capitais, vários estados em um mês, o frenesi do showbizz vem sendo retomado.

As duplas de maior sucesso quase sempre têm mais de um palco rodando pelo Brasil. Os artistas que podem viajam em aviões próprios e, enquanto fazem shows em uma cidade, um segundo ou terceiro palcos estão sendo realocados em outro canto do país. E assim a roda-viva de shows é tarefa árdua e cansativa.

A dupla sertaneja Israel & Rodolffo - Instagram/Israelerodolffo

A milhagem das duplas sertanejas são altas. Nas primeiras semanas de março de 2022 Israel & Rodolffo tocaram em Uberlândia (MG), Guapirama (PR), Canelinha (SC) e Francisco Beltrão (PR). No mesmo período Henrique & Juliano fizeram shows em Criciúma (SC), Maringá (PR), Umuarama (PR), São José (SC), Carmo do Paranaíba (MG), Caçador (SC) e Goiânia.

Entre abril e maio Zezé Di Camargo & Luciano farão shows em Brusque (SC), Ribeirão Preto, Frederico Westphalen (RS), Santiago (RS), Ibirubá (RS), Divinópolis (MG), Extrema (MG). Só em março deste ano Gusttavo Lima passou por Umuarama (PR), Porto Alegre, União da Vitória (PR), Palmas, Cuiabá, Sinop (MT), Santa Maria (RS), Caxias do Sul (RS) e Barretos (SP).

Em março Felipe Araújo passou por Porto Alegre, Palmas, Belo Horizonte, Cuiabá, Itaquaquecetuba (SP) e São Paulo. Simone & Simaria fizeram shows em janeiro em Pirangi (RN), Salvador, João Pessoa e São Luís. Jorge & Mateus estiveram neste mês em Francisco Beltrão (PR), Curitiba, Guarulhos, Pindamonhangaba (SP), Telêmaco Borba (PR), Castro (PR), Teresina, Recife, Fortaleza e Santa Cruz do Rio Pardo (SP).

Já há shows marcados de Luan Santana em São Paulo, Rio de Janeiro, São João de Meriti (RJ) e São José (SC). Roberta Miranda já tem apresentação marcada para Ribeirão Preto, Piracicaba (SP), Manaus, Cataguases (MG). Chitãozinho & Xororó farão shows em Araçatuba (SP), Campinas (SP), São Paulo e Araraquara (SP).

Os preços dos shows sertanejos foram inflacionados com baixa oferta durante dois anos de pandemia. Segundo o colunista Leo Dias, um show de Marília Mendonça, a artista de maior sucesso pré-pandemia, saía por cerca de R$ 250 mil. Agora um show de Gusttavo Lima não sai por menos de R$ 700. Mas há um dado quase sempre esquecido nessa discussão sobre preços e shows. Os artistas não cobram os mesmos preços para lugares diferentes. Não há como lucrar o mesmo em show em São Paulo e Sinop (MT).

Quase sempre os sertanejos levam em conta outros fatores para formação de público que não necessariamente o financeiro mais imediato. Claro, ganhar dinheiro é importante e é a meta mais concreta de todo artista popular. Mas há também a política de fazer o maior número de shows possíveis aproveitando a circulação de palcos pelos interiores do Brasil. De forma que, se em determinados lugares o show consegue ser vendido por um valor alto, isso não significa que em todos os lugares ele seja vendido pelo mesmo preço. E há também pacotes de shows vendidos junto com outros artistas, quase sempre cantores empresariados pelo mesmo escritório.

É importante notar também que há entre os artistas sertanejos uma disputa para saber "quem tem o show mais caro". Isso conta pontos para a carreira de artistas massivos, que ascendem no imaginário popular como alguém muito desejado. De forma que, inflar valores faz parte da propaganda.

A música sertaneja vai "aonde o povo está" porque consegue fazer um cálculo cotidiano que envolve negociação financeira, estratégia de locomoção e publicidade pelos grotões. Como a base da música sertaneja são as pequenas e médias cidades do interior, estas não podem ser esquecidas. Por outro lado, tocar nas capitais é importante: dá prestígio ao artista e garantia de shows lotados. E para tocar em tantas cidades é preciso uma logística moldável a cada situação concreta.

Aquela grande quantidade de shows pré-pandemia apenas agora está sendo gradualmente retomada pelos sertanejos. Quando as coisas finalmente se ajeitarem, é possível que a roda-viva seja ainda mais frenética. No entanto, por mais que se multiplique nas redes sociais, o artista só consegue estar presente em um lugar por vez. Muitos não aguentam a pressão da intensa locomoção e sofrem com isso. Já abordamos aqui nesta coluna como recentemente a depressão tem sido uma constante entre sertanejos.

Quem souber conduzir melhor esta ambivalente relação entre espaço e tempo, aguentando nos limites de suas possibilidades a pressão do sucesso, chegará "aonde o povo está". Num país continental como o nosso, o preço do sucesso massivo é às vezes bastante alto para os indivíduos.

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