Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Helio Beltrão

O cálculo político do governador

Políticos de São Paulo e de outros estados foram envolvidos por pseudociência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

João Doria promete anunciar nesta quarta-feira (22) um plano para futura retomada gradual das atividades no estado de São Paulo. É um plano que nasce atrasado e guiado pelo cálculo político que indica que os ventos não sopram mais a favor de sua quarentena.

Afinal, os óbitos de Covid-19 no Brasil apontam possivelmente para total inferior a 10 mil, ante mais de 80 mil de gripe ou pneumonia durante o ano de 2018, sendo 24 mil apenas em São Paulo.

Centenas de milhares de negócios estão fechados por decreto do governador, e o desemprego disparou. Milhões estão bloqueados de seu ganha-pão necessário para colocar comida na mesa de sua família.

Governador de São Paulo, João Doria
Governador de São Paulo, João Doria - Nelson Almeida/AFP

O governador, que há meses aposentou a camisa Bolsodoria, reagiu às buzinas inoportunas do fim de semana passado, vazou o factoide de que anunciaria um plano e correu para elaborá-lo. Se tivesse lido minha coluna de 5 de fevereiro nesta Folha, São Paulo poderia ter máscaras para todos.

O plano de Doria começa mal ao impossibilitar uma eventual flexibilização antes de 11 de maio, data decretada arbitrariamente. Decorre do erro anterior de prorrogar a quarentena por dias predeterminados e independentemente da evolução dos fatos, gerando incerteza e insegurança.

Deveria ter ouvido os diversos setores e construído desde o início critérios e indicadores objetivos como precondição para uma retomada gradual, que contemplassem a capacidade do sistema de saúde, a disponibilidade de testes para profissionais de saúde e a trajetória declinante de novos casos e óbitos.

Em conversas com o empresariado, Doria tem se preocupado mais em cobrar doações e menos em ouvir a desastrosa situação do emprego, dos autônomos e das empresas. Demorou a compreender o prejuízo que causou por não ter iniciado a quarentena conjuntamente com um plano de retomada estabelecido. E agora desconsidera uma flexibilização a partir desta semana baseada no uso generalizado de máscaras, distanciamento nos locais de aglomeração e medição de temperatura.

O bom gestor —não o governador de São Paulo— sabe que o travamento da atividade econômica em tempos de pandemia não deve prescindir de uma sólida base científica.

Tal base faltou ao infame paper do Imperial College, adotado como referência por diversos países e cuja adaptação ao Brasil previu 1 milhão de mortes na ausência de um lockdown por meses a fio.

Em meio a inúmeros equívocos metodológicos, o paper ignorou os custos envolvidos nas paralisações propostas, uma falha fatal. Em uma analogia, foi adotada a quarentena baseada em um modelo resultante de opinião pessoal, antes dos ensaios clínicos randomizados, a norma de ouro da ciência médica.

Considero o isolamento uma medida necessária para proteger vidas —o maior dos direitos humanos. Contudo tenho dúvidas sobre a versão paulista em relação à dosagem —por desconsiderar os efeitos colaterais da overdose, como a queda brutal dos ingressos das classes mais baixas, do varejo e de boa parte da indústria.

Há também efeitos adversos escondidos, como violência doméstica, consumo de álcool e drogas e depressão.

O fato é que os políticos de São Paulo e de outros estados foram envolvidos por pseudociência e fecharam todo o possível, desconsiderando inclusive as fronteiras de transmissão.

Em São Paulo, centenas de cidades com milhares de pequenas e médias indústrias tiveram suas atividades interrompidas antes que se registrassem casos.

Espero que o plano me surpreenda, ainda que tardiamente. E vamos trabalhar!

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.