Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Helio Beltrão

A negociação de Guedes

Ainda compensa apoiar o ministro, mas o sistema e os políticos não vão dar sopa

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Salim Mattar e Paulo Uebel voltam para as trincheiras, fora do governo. Essa saída é sintomática dos desafios das negociações para colocar o Brasil nos trilhos no pós-pandemia, a partir de 2021. Mas Paulo Guedes segue negociando.

Em negociação há dois conceitos fundamentais: Zopa, que significa a “zona de um possível acordo”, e Batna, ou qual é sua “melhor alternativa caso não chegue ao acordo em questão”. E uma regra de ouro: nunca abra seu preço, ou seu resultado planejado.

Guedes desapegou de seu Batna e se acomodou com o sistema desde a reforma da Previdência, o que é preocupante. Mas nos últimos dias enxergou a Zopa de uma agenda liberal retomada.

O que está em jogo é a prosperidade econômica, cada vez mais dependente da trajetória das contas públicas, cujo rombo foi de inimagináveis R$ 820 bilhões nos últimos 12 meses (11% do PIB).

Apenas de janeiro a julho, a dívida bruta do governo geral aumentou dez pontos percentuais, para cerca de 86% do PIB, e seguirá subindo até aproximadamente 100%, segundo estimativas.

Na primeira rodada de negociações para 2021, Paulo Guedes vem perdendo terreno fiscal e está sendo continuamente espremido entre as paredes móveis de um barulhento compactador orçamentário.

Solitário dentro do compactador, as quatro paredes são arrochadas por: a) funcionários públicos da ativa; b) funcionários públicos aposentados; c) políticos, ministros e o presidente em busca de mais verbas; e d) devotos da pirâmide da Previdência.

A cada dia as paredes tomam recursos do restante do Orçamento, os programas sociais e as despesas de educação, saúde, segurança pública, saneamento, que Guedes tenta salvaguardar.

Something’s gotta give. Ou Guedes contém as paredes ou os programas sociais e as despesas que deseja garantir diminuirão a cada semestre.

Ao contrário de uma negociação voluntária, situação na qual ambas as partes ganham, na negociação política vigora a lógica da ação coletiva, dos benefícios concentrados e custos difusos, prevista por Mancur Olson.

A minoria de interesses concentrados, os arrochadores, tende a garantir seus privilégios externalizando os custos para a maioria difusa: cada um de nós.

Nesse sentido, os arrochadores se articulam em uma trama: garantir os seus recebimentos explodindo o compactador e seu teto e enviando a conta para o pagador de impostos.

Até a debandada, Guedes vinha adotando uma estratégia negocial perdedora.

Envolvido e distraído pelos veteranos da máquina pública obcecada por controle e sabotadora do avanço, a) perdeu o timing das privatizações, enterradas depois da chegada do centrão ao governo; b) deixou de promover a abertura comercial a despeito do câmbio favorável; e c) não convenceu o presidente a enviar a reforma administrativa, que moderniza a gestão do setor público.

Para piorar, concedeu protagonismo à Receita Federal na proposta da CBS, que aumenta a carga tributária. Isso lhe custou as estrelas Salim e Uebel.

Mas, nos últimos dias, Guedes se mostrou o único negociador político alinhado com os interesses da população. Está liderando a coordenação política junto ao presidente, aos ministros e ao Congresso para garantir o teto de gastos e os gatilhos que o garantem, em especial, os 25% de redução de salários e jornada. E retomou a PEC do Pacto Federativo e a quebra do “software” orçamentário, o DDD: desvincular e desindexar as despesas obrigatórias do Orçamento.

Paradoxalmente, essa é também uma agenda que assegura os interesses das “paredes”, pois, confrontado entre essas e as despesas essenciais, o Congresso ficará com o povo.

Nosso fraquíssimo Batna é apertar um botão em 2022, portanto ainda compensa apoiar Guedes. Mas o sistema e os políticos não vão dar sopa.

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