Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Descrição de chapéu inflação juros Selic

Irresponsabilidade ímpar e inflação

Será tarde quando o BC elevar a Selic para tentar domar a inflação; já vimos esse filme sob o PT

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A forte entrada de recursos de estrangeiros nas últimas semanas trouxe alívio ao dólar, que caiu de R$ 5,78 para abaixo de R$ 5,10. O mercado parece dar um voto de confiança às declarações recentes de Paulo Guedes, de Rodrigo Maia e do presidente Jair Bolsonaro de que o teto de gastos para o ano de 2021 será cumprido.

O investidor está correto ao se guiar prioritariamente pela questão dos gastos públicos, pois é a trajetória de endividamento do governo que determinará se o Brasil caminhará para a prosperidade ou para o calote.

A uníssona comunicação dos principais agentes políticos, raríssima neste governo, gerou expectativas mais animadoras. Mas sempre há o risco de o discurso mudar.

O risco maior, porém, é a inflação, que já voltou. Desde agosto o IPCA vem subindo rapidamente. Nesta terça (8) foi anunciado o IPCA de novembro: 0,9% —e, nos últimos 12 meses, a alta dos preços ficou em 4,3%, acima da meta de 4% do Banco Central para 2020.

Pouca gente imaginou que isso pudesse ocorrer em 2020. De fato, o relatório Focus indicava há apenas um mês um IPCA para 2020 confortavelmente abaixo da meta, com alta de 3,2%, e agora prevê inflação acima da meta.

O Brasil ainda não esqueceu que quem mais sofre com a inflação é o pequeno. A começar por seu custo de vida, seguramente maior do que indica o IPCA. A cesta desse índice reflete um padrão de consumo de anos anteriores e, consequentemente, está inadequada ao especialíssimo ano de 2020. O IPCA deste ano é o índice para aquele economista imaginário que passou a pandemia viajando de avião, se hospedando em hotéis e sem comer arroz: nada a ver com o Brasil real.

A Fecomércio de São Paulo empenha-se em corrigir essa falha ao calcular o custo de vida dos produtos e serviços essenciais mais consumidos pelo pequeno neste momento de crise. A “cesta da pandemia” contém os grupos de alimentação e bebidas, habitação, saúde e cuidados pessoais. Essa cesta subiu 11,4% nos últimos 12 meses. O arroz subiu 65%, o feijão, 46%, e o leite, 33%. O brasileiro não leva para casa o IPCA.

Depois do pequeno, os mais prejudicados com a inflação são justamente os políticos, que perdem eleições enquanto a carestia punir o mais fraco.

O Banco Central está em uma posição delicada. Por enquanto promete manter a Selic em 2% (muito abaixo da inflação) por tempo indeterminado, provavelmente até o quarto trimestre de 2021, por força da política de “forward guidance”. Torce para que os efeitos da expansão de 40% da massa monetária —que ele mesmo promoveu— sejam anulados pela descontinuidade do auxílio emergencial e por um dólar comportado.

O mercado não acredita nesse milagre. Os títulos indexados à inflação indicam IPCA próximo a 4% em 2021, com uma corcova em meados de 2021 ao ritmo de 6% ao ano. E o mercado futuro de juros indica que a Selic estará próxima a 4,5% em janeiro de 2022, bem acima das projeções dos analistas, que esperam 3%.

Será tarde quando o Banco Central inevitavelmente abandonar o “forward guidance” e começar a subir a Selic na tentativa de domar a inflação. É um filme que já vimos antes, na época do PT.

Em 2012, aquele Banco Central, desconfortavelmente servil ao Executivo federal, derrubou a Selic de 12% para 7%, nível mais baixo até então. A inflação, tal como agora, subiu rapidamente com o estímulo dos juros e obrigou o BC a subir a Selic dois anos depois para 14%, detonando a recessão que caracterizou o fim do governo Dilma em 2015. Inflação não perdoa

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