Nesta terça-feira (23), acessei um estudo estatístico interessante e revelador sobre o comportamento de partidos, deputados e deputadas, baseado em seus votos na Câmara dos Deputados. Interessou-me de imediato o foco em votos, pois creio que ações valem mais que discursos, promessas, plataforma partidária ou ideologia declarada.
O estudo de Caio Engelhardt Caminoski, especialista em integração e análise de dados, tem metodologia similar à do GPS Ideológico da Folha: é absolutamente agnóstico em relação à posição ideológica ou partidária. Ou seja, não passa prejulgamento algum sobre o deputado ou deputada ser de esquerda, direita, centro, governista, opositora, radical, ter bom senso, ser oportunista, absolutamente nada.
A metodologia se baseia em “distâncias”: ou seja, simplesmente aproxima, graficamente, os deputados ou partidos que votam de forma similar e separa os que votam diferente. Quanto mais votos parecidos no período de análise, mais próximos estarão os respectivos pontos no gráfico.
O resultado aparece como uma imagem com pontos espalhados em duas dimensões.
O estudo compilou os votos “sim” e “não” dos deputados e deputadas entre fevereiro de 2019, início do mandato, até março de 2021. Foram computados os votos dos 458 deputados e deputadas que estiveram ativos ininterruptamente nesse período.
O resultado é revelador em inúmeros aspectos, e destacarei três. Em primeiro lugar, pela análise fria da similaridade de votos, o PSDB ficou agrupado aos partidos tradicionalmente considerados como centro. E o centro como um todo (MDB, Cidadania, PSD e o próprio PSDB) agrupou-se surpreendentemente aos partidos de direita (PSL, Patriota, e DEM, por exemplo) e figurou bem distante dos partidos de esquerda, como PDT, PSB ou PT.
Ou seja, centro e direita têm votado parecido. É possível considerar um “cluster” centro-direita bastante uniforme, tomando por base esses dois anos.
A polarização aparentemente apagou o centro, que nesse estudo apareceria como partidos ou deputados que votam algumas vezes com a centro-direita, e outras, com a esquerda.
Uma segunda revelação foi o aparecimento de um terceiro bloco independente da esquerda e da centro direita, os parlamentares do Novo. Embora estejam mais próximos ao “cluster” de centro-direita do que da esquerda, formam um “cluster” independente de ambos, que congrega alguns poucos deputados de outros partidos, como Kim Kataguiri (DEM), Paulo Eduardo Martins (PSC) e Luiz Phillipe Orleans e Bragança (PSL).
Conclui-se que há hoje três “clusters” na Câmara, portanto: centro-direita, esquerda e Novo.
Assim, o estudo parece corroborar a utilidade de categorizar e interpretar posições políticas em mais que uma dimensão. Os parlamentares do “cluster” do Novo, por exemplo, não puderam ser classificados pela metodologia agnóstica nem como parte da centro-direita, nem como centro, e muito menos como esquerda.
Finalmente, ao mudarmos o foco para os votos dos deputados, é possível reclassificar alguns. Rodrigo Coelho, do PSB (partido tradicionalmente de esquerda), tem enorme afinidade com o “cluster” do Novo. Tiririca, do direitista PL, age como membro da esquerda. Kim Kataguiri se comporta como se fora deputado do Novo, e não do DEM. E revela que os dois partidos cujos deputados mais votam uniformemente, Novo e PT, estão em lados diametralmente opostos do diagrama final.
O trabalho de Caminoski revela a importância de julgar parlamentares por meio de suas ações, materializadas em seus votos, e menos por suas declarações públicas.
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