Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Descrição de chapéu juros inflação

50 anos do colapso do sistema monetário internacional de Bretton Woods

Com dívida explosiva, sistema monetário dá sinais de esgotamento

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Este mês de agosto marcará 50 anos do colapso do sistema monetário internacional de Bretton Woods. São as bodas de ouro do divórcio entre o dólar e o próprio ouro.

O experimento monetário atual —marcado por prolongados processos inflacionários, crises bancárias, crônicos déficits comerciais— não se provou superior a Bretton Woods e dá preocupantes sinais de esgotamento. Em vários aspectos, o cenário atual se assemelha aos anos derradeiros de Bretton Woods.

No infame anúncio em rede de televisão em 1971, o presidente Richard Nixon declarou o calote unilateral, "temporário", dos tratados que obrigavam os Estados Unidos a resgatar dólares em ouro. Como dizia Milton Friedman, não há nada tão permanente quanto um programa temporário do governo. O calote "permanente" de Nixon marcou uma abrupta transição ao experimento de moedas "fiat" nacionais, ou seja, moedas "garantidas" apenas pela autoridade monetária de cada país.

Conferência de acordo para recuperar economia norte-americana após a crise. A reunião acabou no acordo de Bretton Woods, que fixou o valor do dólar pelo ouro - International Monetary Fund/AFP

Ao fim da Segunda Guerra Mundial os países aliados concordaram em designar os Estados Unidos âncora do sistema. Maior potência mundial e com as contas públicas razoavelmente organizadas, os Estados Unidos detinham dois terços do estoque de ouro do planeta. O mundo concordou em acumular dólares em suas reservas internacionais, com a contrapartida de que seus governos podiam requerer a troca de dólares pelo ouro, que garantiria a estabilidade. Os dólares funcionavam como "créditos" contra o governo americano, pois conferiam direito ao resgate do ouro.

Porém, ao contrário do padrão-ouro clássico (que vigorou por quase dois séculos), Bretton Woods delegou um extraordinário privilégio aos EUA, que não perdiam reservas de ouro ao incorrer em déficits comerciais. O mundo mandava produtos aos americanos, mas aceitavam acumular "fotos do George Washington" em pagamento. O acúmulo de dólares interessava aos países, que ganhavam em liquidez e crescimento de curto prazo.

O economista francês Jacques Rueff, aluno de Ludwig von Mises e principal assessor econômico do presidente De Gaulle, mostrou desde a década de 1930 que o uso de "créditos" como reservas internacionais era inflacionário e instável (antecipou em 30 anos o "dilema de Triffin").

Na década de 1960, com muito menos ouro em caixa, o Fed embarcou em uma aventura monetária de imprimir uma montanha de dólares para financiar o déficit público ocasionado pela Guerra do Vietnã, entre outros.

Com mais "créditos-dólares", Rueff anteviu a iminente derrocada e recomendou o resgate do ouro francês no Fed. Game over. Agora não temos o Vietnã, mas temos a guerra ao vírus. Vamos aos paralelos:

1) o Fed está complacente com a inflação, que está em nítida ascensão. Os preços dos produtos importados subiram 11% nos últimos 12 meses; os exportados subiram 17%;

2) há espúria mistura entre as políticas monetária e fiscal. O Fed passou a monetizar o déficit público, que triplicou para mais de US$ 3 trilhões em 2020 e 2021 (mais de 13% do PIB). Desde o início da pandemia, o Fed comprou US$ 3 trilhões em títulos do Tesouro. A ex-presidente do Fed virou secretária do Tesouro. O Fed discursa mais sobre ESG, diversidade e aquecimento global do que sobre temas monetários;

3) há péssimos conselhos de economistas. O inflacionismo do MMT está em voga (outrora a curva de Philips keynesiana era a queridinha);

4) hoje, o mundo aceita continuar acumulando dólares em suas reservas internacionais.

O resultado foi um aumento da dívida global em cerca de US$ 40 trilhões, alçando-a a patamar próximo de quatro vezes o PIB mundial.

Rueff, unindo teoria e ação (ordem de trocas de dólares por ouro), detonou nos anos 1960 o início da correção das políticas insustentáveis. Hoje não sabemos de onde virá o estouro, mas aquilo que não é sustentável não pode continuar indefinidamente.

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