Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Helio Beltrão

A escalada do autoritarismo

Com estado de emergência, Trudeau deixa cair a máscara democrata

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Uma das características da escalada do autoritarismo é o uso de coerção desproporcional, legitimada por decretos de ampla abrangência implementados em situação de alegada emergência ou "risco à democracia".

O caso da reação brutal do governo de Trudeau no Canadá ao protesto de caminhoneiros é chocante, especialmente pelo fato de o país ter longo histórico de respeito a direitos individuais e ao devido processo legal.

É certamente inaceitável que manifestantes bloqueiem estradas e ruas, façam baderna ou impeçam o comércio de funcionar normalmente. A coibição de tais crimes está prevista na legislação penal canadense e é executada pela polícia local. Além disso, processos judiciais podem resultar em multas e outras penalidades.

Manifestante que participava de bloqueio antivacina é detido pela polícia de Ottawa, capital do Canadá - Scott Olson - 18.fev.22/AFP

Porém o governo foi além, proibindo o protesto pacífico e legal, pisoteando manifestantes com cavalos, perseguindo simpatizantes e congelando contas bancárias. É um ataque frontal aos direitos básicos.

O "estado de emergência" decretado por Trudeau no dia 13 (e infamemente confirmado no dia 20 por uma das Casas do Congresso) viabilizou centenas de prisões até agora, que continuarão, segundo o governo, apesar da total desmobilização da manifestação em Ottawa no domingo (20).

Os caminhoneiros vinham protestando pacificamente contra as crescentes medidas draconianas de Trudeau, em um momento no qual Reino Unido, Dinamarca, Espanha, Suécia, Itália e Noruega flexibilizam as restrições.

As restrições do Fidelzinho do Norte preveem a interdição do emprego e do dinheiro de não vacinados saudáveis —como os caminhoneiros, que trabalham isolados em suas cabines—, mas não impedem que indivíduos vacinados infectados frequentem todo e qualquer local.

Desde o início, Trudeau demonizou os caminhoneiros e simpatizantes como misóginos e racistas, uma minoria raivosa com ideias não permitidas. Quando o protesto chegou à capital, resolveu caracterizá-los como golpistas perigosos e fugiu. Não dialogou nem deu ouvido a suas petições em momento algum. Não admite que os manifestantes sejam gente comum, homens e mulheres que têm levado comida e medicamentos aos canadenses e que depois de dois anos de restrições severas agora podem perder seu ganha-pão. Deveriam ser escutados, não brutalizados.

O estado de emergência segue mesmo após a desmobilização, o que significa que o Estado de Direito está suspenso a critério do governo, que tem como prioridade calar os dissidentes "antivaxxers".

Liberais defendem que a livre expressão deve ser sempre respeitada (salvo se houver ameaça iminente, que não foi o caso). Medidas de exceção tendem a ser abusadas e prolongadas, lição que os próprios partidos de esquerda deveriam recordar, pois também podem se tornar vítimas do arbítrio, como a história indica.

A caça às bruxas está em curso. Doadores —entre os quais 90 mil identificados em um vazamento de um aplicativo de vaquinha— estão sendo implicados criminalmente por exercer seu direito democrático via pequenas doações, que eram perfeitamente legais na data de sua consecução. Centenas de contas de apoiadores já foram congeladas sem o devido processo legal.

Trudeau terá que encarar as consequências de seus atos.

Uma parcela significativa da população parece ter chegado ao ponto de exaustão. O autoritarismo do governo dará combustível à oposição e a maluquinhos extremistas. Trudeau e seus aliados socialistas do NDP tendem a ser responsabilizados pelos trabalhadores alienados pelo governo.

O "j’accuse" a supostos inimigos da democracia, seguido de inadiáveis medidas autoritárias, é uma prática que desgraçadamente está chegando ao Brasil, terra onde Fidelzinho tem um razoável fã-clube. Uma dessas medidas é o banimento de redes sociais que não cooperarem com o governo. Em breve, tema desta coluna.

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