Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Descrição de chapéu Selic juros

'Carry trade' favorece o real, que tem bom desempenho em 2022

Agilidade do BC em subir juros acima da inflação atraiu capital

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Mesmo após o aumento do dólar nesta semana, o real permanece na liderança entre as moedas emergentes com melhor desempenho em 2022. É boa notícia.

Ao contrário do que alegam os desenvolvimentistas empedernidos, uma política deliberada de desvalorização da moeda nacional é incapaz de gerar prosperidade para o país como um todo. Ao contrário, o cidadão comum perde poder de compra, e o país fica mais pobre em moeda forte. Pergunte a um cidadão da Venezuela, do Zimbábue, ou mesmo da Argentina ou Turquia...

É, portanto, positivo que o real tenha voltado a encontrar uma âncora, reflexo da atitude recente do Banco Central, que abandonou sua inflacionária política de juros reais negativos (Selic abaixo da inflação). Depois de um longo período de complacência com a inflação, o BC deve subir a Selic nesta quarta (16) para 11,75% ou 12%, posicionando os juros de curto prazo firmemente acima do IPCA, que tem rodado acima de 10% ao ano por meses seguidos.

Cédulas de dólar e real - Gabriel Cabral - 24.jan.2019/Folhapress

Muito pior do que juros mais altos é a corrosão do salário e poupança da população pela inflação descontrolada.

Neste ano, o Brasil voltou a ser um dos preferidos para o "carry trade", um poderoso mecanismo de negociação de capital internacional que premia moedas com boas perspectivas e políticas monetárias sólidas. O mercado de "forex" (câmbio de moedas) é o maior do mundo, com volume diário acima de US$ 5 trilhões (ou cerca de US$ 2 quatrilhões por ano, quase cem vezes o PIB dos Estados Unidos). Boa parte dessas negociações é de "carry trade".

No "carry trade", o investidor toma dinheiro emprestado em uma moeda de juros baixos, ou moeda de funding (por exemplo, o dólar, o euro, o iene), e investe em uma moeda cujos títulos paguem juros altos (moeda-alvo). Quando o título vence, o investidor converte seus recursos de volta para a moeda de funding e paga o empréstimo. O lucro do investidor é a diferença entre os juros recebidos no título e os juros pagos sobre o empréstimo.

Segundo a teoria tradicional das finanças ("paridade de juros"), o lucro esperado dessa estratégia deveria ser zero, pois a desvalorização esperada da moeda-alvo equaliza os juros recebidos e os juros pagos. Por outras palavras, os juros mais altos obtidos na moeda-alvo apenas refletem seu maior risco de desvalorização. Mas o consistente histórico de lucros realizados pela estratégia de "carry trade" continua a desafiar a teoria tradicional.

O "carry trade" tem se voltado para o real pois há uma clara divergência entre as políticas do BC e dos demais bancos centrais. O BC agiu primeiro e já está com juros acima da inflação (cerca de 6% de juros reais para prazo de um ano). O Fed e o Banco Central Europeu apenas agora se movimentam para aumentar timidamente suas taxas de juros, que, por sua vez, permanecerão abaixo da inflação por período bastante prolongado.

Muitos criticam equivocadamente o "carry trade" por ser arisco e apenas prover capital de curto prazo. Mas capital é capital, e são inegáveis seus benefícios no fortalecimento da moeda quando os fundamentos estão bons.

Todo país tem a taxa de juros que merece, que reflete a (ir)responsabilidade de suas políticas fiscais e monetárias. O país deficiente em criar e manter capital nacional precisa dispor de todo o capital possível ao longo do tempo. Ao determinar taxas irrealisticamente baixas e promover inflação, um banco central afugenta os capitais estrangeiro e nacional, que levam consigo o potencial de crescimento de emprego e renda.

Quando as políticas monetárias sensatas voltam a vigorar como agora, a inflação tende a baixar, o "carry trade" fortalece a moeda nacional, e o capital de longo prazo volta. Pelo menos, claro, até a próxima crise.

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