Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Helio Beltrão
Descrição de chapéu Rússia

Ocidente lança sanção atômica contra o agressor Putin

Congelamento de reservas acerta ao isolar a Rússia, mas pode ter consequências negativas

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O autoritário e expansionista Putin aprontou mais uma. Desta vez conseguiu a façanha de unir o mundo em oposição. Não é surpresa para quem acompanha sua trajetória. Já na sua primeira campanha eleitoral em 2000, foi questionado por uma jornalista como era ser um candidato ex-agente da KGB. Respondeu com sorriso malicioso: "não existe tal coisa como um ex-agente da KGB".

Sua primeira grande crise ocorreu quando 40 terroristas chechenos tomaram 850 reféns em um teatro de Moscou. As forças especiais chefiadas por Putin empregaram agentes químicos, que mataram os 40 insurgentes e 130 reféns, incluindo 9 estrangeiros.

Em 2003, fechou a última emissora independente de TV e tornou ilegal que a mídia comente sobre eleições. Em 2004, passou a nomear os governadores. Em 2005, afirmou que o colapso da União Soviética foi "o maior desastre geopolítico do século". Eliminou inimigos políticos, muitos alegadamente com veneno, coagiu e aliciou os oligarcas e colocou as principais empresas russas sob sua órbita.

O presidente da Rússia Vladimir Putin discursa em cerimônia militar
O Presidente da Rússia Vladimir Putin iniciou a invasão à Ucrânia em 24 de fevereiro - Sitdikov Sputnik/AFP

Ao menos desde 2008 Putin já vociferava que, caso a Ucrânia aderisse à Otan, anexaria a Ucrânia do Leste e a península da Crimeia. Crápulas costumam dar aviso prévio do que farão, mas o Ocidente não deu bola e preferiu peitar. Naquele ano, Ron Paul, político liberal americano, votou ‘não’ à proposta do governo Bush de expandir a Otan alertando que "a expansão da Otan poderá envolver os Estados Unidos militarmente em conflitos que não são de interesse nacional".

As seguidas trapalhadas de política externa dos Estados Unidos e da Otan não justificam a anexação da Crimeia em 2014, território ucraniano desde 1954. Putin violou a soberania da Ucrânia e zombou do Direito Internacional ao empenhar soldados sem insígnias. De lá para cá, as hostilidades entre as partes se acentuaram e Putin optou pela infâmia.

Não creio que Putin tenha vislumbrado a potência e extensão da reação internacional, que desplugou a Rússia por intermédio de uma "bomba atômica financeira" e a tornou pária instantaneamente

Já se imaginavam sanções a indivíduos, até agora implementadas contra cerca de 700 oligarcas, empresários e membros do círculo de poder, que tiveram seus bens congelados na Europa e nos EUA.

A comunidade internacional também está desconectando vários bancos russos do Swift, uma rede de facilitação de transferências financeiras, composta por 11 mil bancos. Embora a medida não impeça que a Rússia efetue transações internacionais, as tornará mais custosas e trabalhosas.

Porém, a ‘sanção atômica’ para fechar as torneiras da guerra e desestabilizar a Rússia financeiramente foi o congelamento das gigantescas reservas internacionais (US$ 630 bilhões) do BC russo.

Sem seu lastro, o rublo pode entrar em parafuso de desvalorização com inflação. Como não há dólares para fazer frente às enormes importações e demais compromissos, restará ao BC imprimir dinheiro.

Ao se desplugar a Rússia financeiramente, materializa-se o grave risco de contágio de bancos e empresas estrangeiras, que podem sofrer atrasos de pagamentos e calotes. E evaporam-se os mais de US$ 300 bilhões que a Rússia disponibiliza ao sistema financeiro no overnight, que será um choque nos bancos do Ocidente.

O Kremlin afirmou que "as sanções são problemáticas, mas a Rússia tem o potencial de neutralizá-las". Pouco provável. As ações do Sberbank, maior banco russo, já caíram 90% e a bolsa russa 60% em dólares (indicado pelo ETF ‘RSX’, proxy da bolsa).

Putin parece disposto a sacrificar o povo e a economia. Os riscos de sua reação –no limite, a continuidade da escalada bélica– são enormes. A sanção atômica financeira pode ser percebida pelos russos como uma renúncia das tradicionais e ensaiadas regras de escalada e um ato de guerra análogo ao bloqueio de comércio.

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