Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Helio Mattar

Os agrotóxicos, a nossa saúde e a natureza

O que podemos fazer para ter segurança sobre o que consumimos?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Só neste ano, o Ministério da Agricultura já registrou e liberou a comercialização de 382 novos agrotóxicos. Estamos caminhando para bater o recorde dos 450 registros feitos em 2018 -- no total, o Brasil tem mais de 2.300 produtos desse tipo registrados -- indo na contramão da tendência mundial de diminuir o número de pesticidas. Esta situação traz à tona uma dúvida comum a muitos consumidores: os agrotóxicos trazem riscos à nossa saúde?

Se você acha que sim, você não está sozinho. Segundo uma pesquisa feita pelo Datafolha em julho deste ano, 78% dos brasileiros considera o consumo de alimentos com agrotóxicos inseguro para a saúde humana. E para 72%, os alimentos produzidos no país têm mais agrotóxicos do que deveriam.

Pesquisas mostram que a ingestão de alimentos com defensivos agrícolas ou de água por eles contaminada pode, sim, prejudicar a nossa saúde. Assim como o contato da pele com um pesticida e sua inalação, ao aspirar poeira ou spray. É por isso que trabalhadores da zona rural, que manuseiam e ficam expostos aos produtos, são mais vulneráveis aos riscos.

No Brasil, as notificações por intoxicação por agrotóxico dobraram desde 2009, de 7.001 para 14.664 em 2018, segundo o Ministério da Saúde. E os efeitos à saúde dependem não apenas do tipo de agrotóxico, mas também do período de exposição. Eles vão de sensibilização alérgica a irritação ocular e cutânea, passando por dor de cabeça e fraqueza extrema.

Um estudo da American Heart Association diz que o contato frequente com um pesticida pode estar ligado ao desenvolvimento de mal de Parkinson, asma, depressão e ansiedade, transtorno de déficit de atenção e câncer.

No caso da ingestão de alimentos, uma saída para nós, consumidores, são os orgânicos. Sempre que possível, opte por produtos da época obtidos por um sistema agropecuário orgânico, que cultiva sem pesticidas e fertilizantes químicos sintetizados artificialmente ou de um processo extrativista sustentável.

Para ter certeza de que está adquirindo um produto orgânico, verifique se ele possui um selo que indique sua certificação. Aqui, cabe às empresas cumprir seu papel de informar, de maneira transparente, os atributos do que produzem.

Outro ponto importante é conhecer a origem do se está adquirindo. Dê preferência aos pequenos produtores. Eles possuem maior variedade de culturas, já que dificilmente atendem à indústria que demanda fornecimento em grande escala. Por isso, conseguem ter uma produção livre de transgênicos, sazonal e diversa.

Impactos ambientais

Os impactos negativos do uso exagerado ou inadequado de agrotóxicos não se restringem à saúde humana. O meio ambiente também sente o seu impacto. Artificializar a natureza contribui para a redução da biodiversidade, o desequilíbrio de ecossistemas e o surgimento de novas pragas, o que exige, consequentemente, a aplicação de novos pesticidas, formando, assim, um ciclo vicioso.

De acordo com a Embrapa, altas dosagens de agrotóxicos afetam o solo, as nascentes de rios e os polinizadores. Um levantamento deste ano da Agência Pública e da Repórter Brasil apontou a relação entre a morte de meio bilhão de abelhas no Brasil, em três meses, e a presença de agrotóxicos: ao buscar o néctar e o pólen das flores, as abelhas visitam plantações e são contaminadas pelos pesticidas ali presentes.

Essenciais para a reprodução das plantas e a agricultura de forma geral, a degradação dos polinizadores impacta na própria capacidade de produção do país. Ou seja: se os agrotóxicos não forem usados de maneira consciente e aplicados de forma adequada, eles não só prejudicam a natureza, mas também a economia e o bem-estar da sociedade como um todo.

*O autor agradece a colaboração de Bruna Tiussu, Larissa Kuroki e Fernanda Iwasaka na elaboração deste artigo, assumindo, no entanto, total responsabilidade por seu conteúdo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.