Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

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Manifesto de Davos: a demanda por novos propósitos das empresas

Uma companhia é mais do que uma unidade econômica de geração de riqueza

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Há uma espetacular evolução no manifesto de Davos de 2020 se comparado ao de 1973, o primeiro publicado. Enquanto este último olhava para o propósito da existência das empresas a partir do capitalismo do acionista, o deste ano faz a reflexão tendo como base o capitalismo dos “stakeholders”.

O termo se refere às partes que são afetadas por um negócio: empregados, clientes, fornecedores, comunidades locais e sociedade em geral.

O manifesto de 2020 afirma sem rodeios que o foco nos lucros resultante da prática do capitalismo do acionista se tornou desconectado dos desafios da economia real. Ao perceber isso, investidores e gestores caminham para o capitalismo dos “stakeholders”. 

Centralmente, o documento diz que “o propósito de uma companhia é engajar todos os seus ‘stakeholders’ em uma criação de valor sustentável e compartilhada”. Também explicita que nesse processo “a empresa serve não apenas aos acionistas, mas a todas as partes envolvidas”.

Mais do que pagar uma parte justa dos impostos, não tolerar corrupção, defender os direitos humanos em toda sua cadeia e advogar por uma competição leal, o manifesto afirma que uma companhia é mais do que uma unidade econômica de geração de riqueza. “Ela atende a aspirações humanas como parte de um sistema social abrangente.”

Na mesma direção vão as cartas de Larry Fink, diretor-executivo da Black Rock, enviadas no fim de 2018 e 2019 aos diretores de empresas e aos acionistas desse fundo, que administra US$ 7 trilhões. Fink afirma: “Uma empresa não pode alcançar lucros a longo prazo sem ter um objetivo e sem considerar as necessidades de uma ampla gama de partes interessadas”. 

As palavras expressam uma preocupação com cada “stakeholder”, a ponto de propor engajá-los no próprio debate sobre criação de valor de forma sustentável e compartilhada. 

Mas o que levou a essas mudanças nas organizações filiadas ao Fórum Econômico Mundial? Klaus Schwab, em artigo recente, aponta a necessidade do manifesto de Davos para um melhor modelo de capitalismo e diz que as novas atitudes são decorrência do efeito Greta Thumberg

Sem discordar da importância do movimento liderado pela valorosa Greta, acredito que exista um impulso adicional, visto que as mudanças de atitudes se iniciaram antes e consolidaram uma percepção de que há um forte risco à própria licença para operar por parte das empresas. 

Há duas décadas, pesquisas feitas pelo Instituto Akatu no Brasil e pela Globescan em mais de 20 países vêm mostrando que 60% dos consumidores acreditam que é papel das empresas não apenas seguir o que as leis determinam, mas contribuir para o desenvolvimento da sociedade. 

Em estudo sobre Vida Saudável e Sustentável, realizado em parceria pela Globescan e pelo Akatu, em 2019, os consumidores brasileiros foram além: 55% acreditam que os governos devem exigir que as empresas trabalhem em prol de uma sociedade melhor, mesmo implicando em preços mais altos e menos empregos. 

Nessa mesma pesquisa, entre os consumidores brasileiros de classes mais altas, formadores de opinião, 83% querem empresas que causem um impacto positivo na comunidade ou no mundo; 73% querem empresas que os ajudem a mostrar a melhor versão de si próprio; e 69% querem empresas que os ajudem a ser parte de um movimento maior do que ele mesmo. 

A sociedade está demandando que as companhias atuem como agentes sociais transformadores da maior importância. Está dizendo, ainda, que vai recompensar as mais sustentáveis, caso desenvolvam uma relação de transparência com os consumidores ao informar sobre suas ações. Uma grande oportunidade. Ou uma grande ameaça.

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