Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

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O alerta do Dia da Sobrecarga da Terra 2021

A pegada de carbono da humanidade aumentou 6,6% em relação ao ano passado

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O 29 de julho, Dia da Sobrecarga da Terra 2021, traz um recado impossível de ser ignorado: a humanidade está consumindo, por ano, 74% mais recursos naturais do que o planeta é capaz de regenerar. Isso significa que precisamos de 1,7 planeta para sustentar nossos atuais padrões de produção e consumo.

Fica evidente a urgência de migrarmos para modelos de produção e consumo mais sustentáveis, que respeitem os limites ecossistêmicos da Terra e garantam o bem-estar de todas as pessoas e demais seres vivos hoje e no futuro.

O Dia da Sobrecarga da Terra 2021 caiu significativamente mais cedo que o de 2020 (22 de agosto), ano de início da pandemia do coronavírus e da redução drástica nos ritmos de produção e de consumo no mundo, consequência do isolamento social.

O que mais impulsionou essa antecipação foi o aumento de 6,6% da nossa pegada de carbono em 2021 se comparado a 2020. Isso reforça, portanto, a urgente necessidade de impulsionar a descarbonização da economia na direção de cumprir as metas previstas no Acordo de Paris.

É preciso que indústrias, empresas e governos assumam como prioridade a transição para uma economia neutra em carbono.

Há vários caminhos para que isso seja feito: investimentos em projetos de ecoeficiência energética, do desenvolvimento de soluções que reduzam as emissões nas cadeias produtivas, da transição da matriz energética na direção de fontes renováveis e da criação de políticas públicas que estimulem a conservação ambiental (combatendo efetivamente o desmatamento) e as práticas mais sustentáveis de produção.

Os benefícios econômicos e sociais que essa transição é capaz de trazer já estão postos. Um relatório de 2000 do BID ( Banco Interamericano de Desenvolvimento) e da OIT (Organização Internacional do Trabalho) mostra que a transição para uma economia de emissão zero poderia gerar mais de 15 milhões de empregos na América Latina e no Caribe até 2030.

Se de um lado essa mudança provocaria o desaparecimento de cerca de 7,5 milhões de empregos nos setores de eletricidade baseada em combustíveis fósseis, na extração de combustíveis fósseis e na produção de alimentos de origem animal, haveria uma compensação com 22,5 milhões de novos empregos nos setores de agricultura, eletricidade de fontes renováveis, silvicultura, construção e manufatura.

E empregos deste tipo são justamente o que o Brasil e seus vizinhos precisam para uma recuperação sustentável e mais inclusiva no pós-pandemia.

Ao expandir o olhar aos países desenvolvidos, vemos que este movimento está cada vez mais próximo. A União Europeia acaba de apresentar, no dia 14 de julho, um ambicioso plano para reduzir as emissões geradas pelo bloco em 55% até 2030, de forma que os países do bloco se aproximem da neutralidade de carbono, meta para 2050.

O projeto prevê, por exemplo, o aumento do uso de energias limpas, estímulos para o uso de carros elétricos, o veto à fabricação de automóveis movidos a combustão a partir de 2035 e a criação de um fundo para ajudar os países nessa transição. Em outras palavras, o plano traz iniciativas que envolvem diretamente uma nova organização do setor produtivo e o apoio de novas políticas públicas.

E quanto às metas brasileiras?

Assim como a União Europeia, na Cúpula de Líderes sobre o Clima realizada em abril por iniciativa dos Estados Unidos, o Brasil se comprometeu a alcançar a neutralidade climática até 2050, além de reduzir suas emissões em 43% até 2030.

Embora essas sejam as mesmas metas declaradas no Plano Nacional de Ação Climática, de 2015, em termos absolutos são menos ambiciosas, visto que houve um aprimoramento metodológico que levou a um ajuste nas emissões do ano base de 2005.

O plano ajustado aumenta o volume de GEE (Gases de Efeito Estufa) que o Brasil pode emitir até 2030 em 400 MtCO2e (tonelada métrica de dióxido de carbono). Portanto, se o país pretendia manter o mesmo nível de emissões para 2030, conforme assinado em Paris em 2015, deveria ter se comprometido a reduzi-las em 57% até 2030, e não em 43%.

As metas menos ambiciosas demonstram que o país não colocou a descarbonização da economia como objetivo orientador de seu desenvolvimento. Outra evidência é a retirada do compromisso de alcançar desmatamento ilegal zero contido na versão do Plano Nacional de Ação Climática submetido em dezembro de 2020, em contraposição à versão de Paris em 2015.

No Brasil, não há ação mais emergencial para reduzir as emissões de GEE do que o combate aos desmatamentos. Considerando as emissões totais do país, o uso da terra representa 44% e a agropecuária 28%. Ou seja, juntas, as atividades que envolvem direta ou indiretamente o desmatamento respondem a mais de 70% de todas as emissões brasileiras.

Constatou-se recentemente que o país está transformando gradualmente suas florestas de sumidouros de carbono em fonte de emissões, além de ser um dos maiores produtores de emissões de metano devido à sua grande produção de gado.

Para começar a falar em transição para uma economia carbono zero e, consequentemente, contribuir com a retração do Dia da Sobrecarga da Terra, será preciso ter indústrias e empresas investindo em soluções produtivas mais sustentáveis, sobretudo as do setor de pecuária, e, ao mesmo tempo, educando o consumidor a fazer escolhas com melhor impacto, por meio do fornecendo deas informações necessárias para isso.

Além disso, como estamos cansados de saber, é preciso que os governos implementem medidas eficazes contra o desmatamento, ao invés de flexibilizá-las.

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