Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Helio Mattar
Descrição de chapéu sustentabilidade

Tecnologias sociais como caminho para a solução de problemas brasileiros

Temos a chance de votar em candidatos que se proponham a trabalhar com a sociedade para encarar os desafios do país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Muitas organizações desenvolvem soluções para problemas sociais que, se levadas a grande escala, poderiam contribuir para superar alguns obstáculos para uma transformação positiva da sociedade.

Excelentes exemplos são apresentados pela Fundação Banco do Brasil (FBB), que analisa e certifica iniciativas que permitem transpor de forma eficiente e eficaz algumas das dificuldades enfrentadas, muitas vezes de forma permanente, pelo setor público.

Em um momento próximo de eleições majoritárias, eu me pergunto por que tais soluções, sistematizadas na forma de tecnologias sociais, não são utilizadas pelos gestores públicos? Por que os gestores não têm interesse em se aproximar das organizações sociais e universidades que possuem soluções testadas e certificadas para transformá-las em políticas públicas?

Esse seria um caminho que permitiria a solução de problemas nas áreas de educação, saúde, alimentação, energia, habitação, meio ambiente e geração de renda, entre outros.

Tal aproximação reduziria a zero o altíssimo custo político pago pelos gestores públicos quando experimentam novas soluções para os problemas sociais e não têm sucesso. Mas, talvez, os gestores valorizem mais clamar para si a autoria das iniciativas do que correr o risco de não serem valorizados ao obter resultados efetivos por meio de soluções desenvolvidas por terceiros.

Isso é tão verdade que muitas vezes os políticos com mandato mudam o nome de iniciativas bem-sucedidas no passado e as apropriam como suas. É como se considerassem que não foram eleitos para resolver problemas e, sim, para serem inventores de soluções.

Não é preciso dizer que nesse processo perdem todos, seja o político com mandato, seja a sociedade. Perde-se enorme oportunidade de dirigir esforços para o que, de fato, traria benefícios políticos e eleitorais, que obviamente não vêm da autoria de soluções e sim da aplicação em escala das já testadas, com potencial de trazer resultados efetivos para comunidades, municípios, estados e o país.

Em momento próximo a eleições, eu defenderia a ideia de, ao votar, preferir candidatos que tenham um histórico de aproximação com organizações da sociedade civil e universidades e, mais especialmente, os que tenham adotado soluções por elas desenvolvidas.

Pensando nos candidatos à Presidência da República, posso afirmar com convicção que os dois líderes nas pesquisas —o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro— não governaram, nem de longe, buscando proximidade com as melhores organizações da sociedade civil.

Em suas gestões, o ex-presidente Lula tentou mais de uma vez estabelecer uma subordinação das organizações sociais ao Ministério da Justiça, que iria avaliar o desempenho das mesmas e autorizar ou não o seu funcionamento. O interesse estava centrado no controle das organizações, e poucas vezes houve aproximação em busca de tornar políticas públicas as melhores tecnologias sociais.

Já o presidente Bolsonaro não perdeu nenhuma oportunidade de apontar, sem qualquer base na realidade, que as ONGs são instrumentos de uma globalização voltada unicamente a interesses de dominação dos países que defendem ideologias indesejadas.

Quero apontar que temos a oportunidade de eleger candidatos (as) que se proponham a trabalhar dentro de uma nova arquitetura social, na qual governo, organizações sociais, universidades e empresas —​entre estas últimas, as que têm propósitos de contribuição positiva para a sociedade e o meio ambiente— receberiam o incentivo de uma convocação pública para, em conjunto, resolverem com escala e velocidade os principais desafios brasileiros.

Longe de mim pensar que assim se poderá resolver todos os problemas da sociedade, mas certamente seriam encaminhadas soluções para um número maior de problemas do que um único período de governo seria capaz de absorver.

Empresas escolheriam causas que refletissem seu propósito e apoiariam organizações sociais e universidades no desenvolvimento e na implantação de soluções. Tais iniciativas seriam submetidas a avaliações metodológica e de resultados que permitissem aperfeiçoá-las para sistematizar modelos a serem adotados nas políticas públicas. Essas políticas públicas seguramente mostrariam bons resultados e poderiam servir de modelo para ser aplicado em situações semelhantes.

Uma oportunidade interessante aparece nas estruturas de governo voltadas a criar condições de emancipação da população mais vulnerável por meio do uso dos CRAS (Centros de Referência de Assistência Social). Atualmente, existem 9.000 centros em todo o Brasil, que contam com 250 mil funcionários pagos pelo poder público. Poucos, entre eles, são bem-sucedidos. Estudar os casos de sucesso para transformá-los em modelos de tecnologia social poderia revelar o processo para utilizar essa extraordinária estrutura de forma a cumprir com seu objetivo, beneficiando milhões de brasileiros.

Outro exemplo é o Edukatu, plataforma online e gratuita de conteúdos e metodologias para a educação de crianças e jovens para a sustentabilidade e o consumo consciente, desenvolvida pelo Akatu e certificada como tecnologia social pela FBB. Seu uso em escala poderia atender aos desígnios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino fundamental neste tema e levar crianças e jovens a apropriar a sustentabilidade como valor, incorporando o consumo consciente em suas vidas.

Como esses exemplos, existem milhares de outros que poderiam contribuir para o Brasil aproveitar seu potencial humano e natural em favor de um grande projeto de desenvolvimento e de cuidado com a população, que possibilitaria transformar o país naquele que tantos de nós ansiamos por ver e viver.

É fundamental acreditar que a sabedoria e a experiência andam juntas. A experiência guia a construção do aprendizado sobre os problemas e suas soluções. Mas só se chegará a soluções inovadoras se houver disposição de trilhar o caminho passo a passo, refletindo sobre o que vemos, o que sentimos, o que erramos e o que acertamos, com governos, empresas, organizações sociais e universidades atuando juntos. A experiência sem a reflexão conceitual é cega, e os conceitos sem a experiência prática são vazios.

Conceitos e experiências, trabalhados de forma integrada pelos atores sociais, iluminam com luzes de esperança os caminhos da transformação social.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.