É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Controle de armas
SÃO PAULO - Se os EUA tivessem leis mais razoáveis de acesso a armas, a tragédia de Las Vegas teria sido evitada? Pergunta errada. Existem excelentes razões para regular rigidamente o comércio de armas, mas não penso que coibir terrorismo ou massacres como o desta semana, que envolvem planejamento metódico, esteja entre as melhores.
É que ataques dessa magnitude até podem ser facilitados por vazios regulatórios, mas, desde que o perpetrador não seja um despreparado completo, não dependem deles para materializar-se.
Se você tem dúvidas, basta olhar para o que acontece do outro lado do Atlântico, a Europa, onde as leis de acesso a armas tendem a ser bastante rigorosas. Isso não tem impedido terroristas com diferentes níveis de profissionalização de perpetrar atentados, seja conseguindo fuzis no mercado negro, seja recorrendo a outros meios de matar. Até carros e caminhões se revelaram ferramentas extremamente eficientes.
Uma legislação que restrinja ao menos um pouco mais a aquisição de armas pelos norte-americanos é importante para prevenir um número muito maior de crimes menos midiáticos (tipicamente conflitos interpessoais que saem de controle) e, principalmente, suicídios e acidentes.
A turma da bala adora levantar histórias de pessoas que, por estar armadas, impediram roubos e chacinas. Fantasiam até um mundo em que haja tantos "cidadãos de bem" armados, que ninguém ousaria sair da linha. Decida você mesmo se isso é uma utopia ou uma distopia.
Não duvido de que existam casos assim. Mas, no mundo real, as estatísticas contam outra história. Metanálises como a conduzida por Andrew Anglemyer mostram que possuir uma arma em casa raramente evita assaltos, mas aumenta três vezes as chances de alguém na residência suicidar-se e duas as de tornar-se vítima de homicídio. Impulsividade é a palavra-chave aqui.
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