Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Semelhança suspeita

Crédito: John Macdougall/AFP (FILES) This file photo taken on February 14, 2017 shows French actress Catherine Deneuve posing for photographers during a photocall for the film "Sage Femme" (The Midwife) in competition at the 67th Berlinale film festival in Berlin. Feminists and one of the women who accused fallen Hollywood mogul Harvey Weinstein of rape turned on French actress Catherine Deneuve on January 10, 2018 after she signed an open letter attacking the #MeToo movement for leading a witch-hunt against men. / AFP PHOTO / John MACDOUGALL
A atriz Catherine Deneuve, símbolo de carta assinada por artistas francesas contra 'puritanismo' do movimento americano

O que a ala mais radical do movimento feminista e o Escola Sem Partido têm em comum? Ambos idealizam um idílico mundo melhor e traçam o que lhes parece ser a linha mais reta entre seus objetivos e a realidade, sem se importar com mais nada.

Há decerto apelo na ideia de uma educação sem proselitismos, na qual os professores apenas informariam os alunos sobre a natureza das coisas, deixando que eles chegassem a suas próprias conclusões em relação a valores ideológicos, religiosos etc. De modo análogo, é difícil não aplaudir o projeto de uma sociedade na qual mulheres não tivessem de sujeitar-se a nenhum tipo de constrangimento, físico ou verbal.

O problema é que não dá para chegar a essas metas, no pressuposto de que elas sejam realizáveis, apenas baixando normas que proíbam os professores de agir como doutrinadores ou criando ambientes que banem cantadas e galanteios. Iniciativas assim, se implementadas ao pé da letra, inviabilizam outras liberdades importantes e também a própria comunicação entre pessoas. As fronteiras entre a explicação, que é a matéria-prima da atividade didática, e a persuasão, a ferramenta do doutrinador, são tudo menos claras.

Da mesma forma, não dá para desenvolver uma fórmula "a priori" para distinguir o convite sexual aceitável que um homem possa fazer a uma mulher de abordagens grosseiras ou mesmo agressivas.

É por isso que, na guerra das agendas feministas, fico com as francesas que defenderam que os homens sejam livres para dirigir-se às mulheres como lhes parecer melhor. Se a mulher não gostar, pode perfeitamente dizer "não" ou mesmo recorrer a figuras de linguagem mais enfáticas.

O feminismo é imprescindível até o ponto em que afirma a autonomia da mulher. Quando tenta pautar o que a mulher deve fazer, caminha, como o Escola Sem Partido, perigosamente perto do autoritarismo.

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