Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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A ética do preço

O valor pode ser determinado levando em conta características do comprador?

Aviões na pista do aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo
Aviões na pista do aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo - Moacyr Lopes Junior - 13.jan.2016/Folhapress

O Ministério Público do Rio de Janeiro está processando a empresa Decolar.com, que vende passagens aéreas e faz reservas de hotéis. A firma é acusada de discriminar consumidores, fixando o preço de acordo com a origem geográfica de onde parte a busca. No caso específico, durante a Olimpíada do Rio, a Decolar.com teria favorecido clientes de fora do país.

Qual é a ética do preço? Ele pode ser determinado levando em conta características do comprador ou deve sempre ser estabelecido por regras objetivas e impessoais, como a chamada lei da oferta e da procura?

Atitudes como a da Decolar.com são só uma versão um pouco mais sofisticada da estratégia do comerciante que não etiqueta seus produtos e decide quanto vai cobrar dependendo dos sinais exteriores de riqueza de cada cliente. Pelo menos no Ocidente, tendemos a classificar essas práticas como desonestas. Dar o preço de acordo com a cara do freguês não sobrevive ao teste das nossas intuições éticas.

Mas será que não passa mesmo? Quando tiramos o comerciante da jogada e colocamos o Fisco, nós praticamente exigimos que os mais ricos paguem alíquotas maiores. Também defendo o IR progressivo, mas não consigo explicar por que é ético para o Estado cobrar mais dos mais ricos, mas não para o empresário.

Não nos saímos muito melhor com as regras objetivas. Só aceitamos a lei da oferta e da procura até certo ponto. O comerciante que eleva o preço de seu produto durante uma emergência (um remédio numa situação de epidemia, por exemplo) corre o risco de ir para a cadeia. Apesar de o aumento ser a consequência óbvia da aplicação da regra objetiva, não conseguimos deixar de vê-lo como uma exploração.

Decididamente, a coerência não é o forte do ser humano. Entre as nossas intuições e a lógica, não hesitamos em ficar com as primeiras, mesmo sem saber o porquê.

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