Há relativo consenso de que a classe política brasileira é ruim. Pesquisa Datafolha de junho do ano passado mostrou que só 3% confiam muito na Presidência da República (31% confiam um pouco e 65% não confiam). O Congresso Nacional alcançou índices idênticos, e os partidos políticos obtiveram míseros 2% de plena confiança.
Cientistas sociais levantam várias hipóteses para explicar o desprestígio das instituições e das pessoas que as integram. Até onde sei, nem na mais fantasiosa delas se atribui a baixa qualidade (real ou percebida) da classe política à existência de pesquisas eleitorais.
Nesse contexto, é desproporcional o tempo e a energia que legisladores e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) dedicam a tentar regulamentar pesquisas, sempre com o viés de restringi-las e burocratizá-las.
O exemplo mais recente é o da resolução do TSE, felizmente revogada, que proibiria as sondagens de fazer “indagações a respeito de temas não relacionados à eleição”. Tal exigência não configuraria apenas uma limitação pouco razoável à liberdade de informar e ser informado. Ela constituiria também um óbice à liberdade de investigação científica.
Institutos, afinal, se valem das pesquisas para testar hipóteses sociológicas sobre o comportamento do eleitor, o que exige fazer perguntas sobre temas tão diversos quanto crença religiosa, valores, apoio à legalização do aborto, à pena de morte e tudo mais que se possa imaginar. Reconheça-se a virtude do TSE de perceber a mancada e voltar atrás.
O ponto central é que a democracia brasileira sairia ganhando se parlamentares e o TSE esquecessem de vez as pesquisas. É o tipo de atividade que costuma ser bem controlada pelo próprio mercado, que julga a reputação de cada instituto por seu histórico de acertos e erros –uma medida muito mais objetiva do que qualquer regulamentação seria capaz de produzir.
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