Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

A pele em jogo

Ideia central de livro de Taleb é desconfiar dos que não se colocam na situação que sugerem

Nassim Taleb, rara combinação de filósofo, escritor, estatístico e investidor, acaba de lançar seu quinto livro, “Skin in the Game” (a pele em jogo), que, como os anteriores, gira em torno da incerteza, da aleatoriedade e do risco.

Ler Taleb é sempre uma experiência interessante. Embora tenda ao exagero e se perca em idiossincrasias, nunca deixa de produzir insights valiosos. Inteligente, erudito e sem medo de entrar em polêmicas, Taleb é capaz de transitar de observações sobre filologia semítica comparada à análise da natureza matemática do caos. No meio, sempre encontra um modo de xingar seus desafetos, que não são poucos. Em “Skin” os alvos preferenciais são Steven Pinker, a monarquia saudita e quase todos os acadêmicos, jornalistas e políticos.

Nassim Nicholas Taleb em sua casa em Larchmont, Nova York, em setembro de 2009.
Nassim Nicholas Taleb em sua casa em Larchmont, Nova York, em setembro de 2009. - NYT

A ideia central de “Skin” é que, devido às assimetrias de risco, devemos desconfiar de todos aqueles que não colocam sua pele em jogo. O político que determina uma intervenção militar, mas não vai à frente das tropas, e o banqueiro que recomenda ao cliente comprar uma ação, mas não a tem em seu portfólio pessoal, não devem ser levados a sério.

É uma tese complicada. Não há dúvida de que nossos sistemas de regulação ganhariam se responsabilizassem um pouco mais políticos, burocratas e agentes privados pelas decisões tecnicamente erradas que tomam que implicam prejuízos coletivos. Os chefões de Wall Street não pagaram o preço que deveriam pela crise que provocaram em 2008.

Não dá, porém, para levar muito longe o conceito proposto por Taleb. Num mundo de especialização do trabalho, não faz sentido que presidentes ou premiês comandem cargas de infantaria. Também não é exato afirmar que políticos, consultores e intelectuais nunca arriscam nada. Danos reputacionais, afinal, existem e têm consequências. “Skin”, embora seja uma leitura divertida, não é o melhor Taleb.

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