Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu

Pena que não vá acontecer

Ainda há tempo para partidos se redimirem e negarem a investigados legenda para concorrer

O senador Aécio Neves durante sessão no Plenário do Senado, em Brasília
O senador Aécio Neves durante sessão no Plenário do Senado, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

A Lava Jato tem um viés contra o PT? Esse discurso encontra alguma verossimilhança porque se diz que a operação derrubou a Dilma, pegou o Lula e não fez nada parecido contra outro partido. Há, contudo, problemas lógicos e fáticos com esse raciocínio.

Em primeiro lugar, não me parece exato afirmar que a Lava Jato seja responsável pelo impeachment de Dilma. As investigações podem ter ajudado um pouco, mas os fatores preponderantes foram a ruína econômica que seu governo provocou e sua incapacidade política de rearrumar a casa. Também não podemos esperar que a Lava Jato pegue os Lulas dos outros partidos porque eles não existem. Nenhuma agremiação tem um líder com importância comparável à do petista.

No mais, se olharmos atentamente, verificaremos que a operação já condenou gente graúda de outros partidos, como Sérgio Cabral e Eduardo Cunha, do MDB, e traz um rol ecumênico de investigados. A Procuradoria também não dá paz ao presidente Michel Temer e seu entorno.

A questão é que, enquanto juízes das instâncias iniciais podem ser relativamente rápidos, pessoas com direito a foro especial, o que inclui parlamentares, ministros e governadores, se veem blindadas pela morosidade das cortes superiores. E disso petistas e a população têm razão em reclamar. Quando a cúpula da Justiça se torna sinônimo de impunidade, temos um problema institucional.

Não é só do Judiciário que devemos nos queixar. Uma das principais missões dos partidos políticos é atuar como “gatekeepers” (guardiães) da lisura de seus candidatos. Têm falhado miseravelmente nela. Mas ainda é tempo de se redimirem, negando a investigados legenda para concorrer a cargos que lhes dariam foro especial. Com isso, personagens como Aécio Neves (PSDB) e Romero Jucá (MDB) poderiam prestar contas à Justiça a partir de 1º de janeiro. Pena que isso não vá acontecer.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.