Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu

Da autonomia das cobaias

Se um sujeito quer participar de um experimento, não cabe a nenhum comitê tutelá-lo

Cientistas que desenvolvem uma vacina contra a zika querem autorização do governo americano para testá-la em humanos e inocular o vírus nos voluntários, para ver se o imunizante de fato funciona. Vale isso? Até que ponto é ético tratar seres humanos como cobaias?

Todos os desenvolvimentos médicos de que nos valemos hoje dependeram de cobaias, animais e humanas. Até mais ou menos meados do século passado, ninguém discutia muito seriamente a ética dos ensaios clínicos. Os cientistas desenvolviam drogas e terapias e as testavam em pacientes, sem se preocupar em perguntar se eles estavam de acordo.

Foi só depois de uma série de pesadelos bioéticos, que culminaram nos experimentos humanos levados a cabo pelos nazistas nos campos de concentração, que surgiu a preocupação de criar regras éticas para a experimentação com humanos. Nos últimos anos, parte das proteções vem sendo estendida aos bichos.

Não há a menor dúvida de que os princípios éticos baseados no respeito ao indivíduo e em seu direito à autodeterminação e a tomar decisões informadas, que estão consubstanciados em documentos como o Código de Nuremberg (1947) e a Declaração de Helsinque (1964), são importantíssimos. Receio, porém, que os reguladores tenham exagerado.

Parece-me absurda, por exemplo, a exigência da autorização de cada paciente para colher dados nos milhões de prontuários médicos guardados em hospitais. Essas informações, quando consideradas no agregado, contêm respostas que poderiam salvar muitas vidas. Está tudo lá, mas não podemos olhar.

De modo análogo, penso que, se um sujeito quer participar de um experimento que não vá beneficiá-lo diretamente, mas não foi em nenhum momento enganado pelos cientistas e compreendeu os riscos a que está sujeito, não cabe a nenhum comitê tutelá-lo ou questionar suas motivações. A autonomia individual é coisa séria e vale tanto para pacientes como para cobaias.

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