Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman
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Em busca da realidade perdida

Físico e filósofo, autor esmiúça as muitas controvérsias em torno da física quântica

A mecânica quântica funciona. Suas equações permitem calcular probabilidades de eventos atômicos de forma assustadoramente precisa. E ela produziu também muitas tecnologias de sucesso. Mas, se você tentar entender o que essas equações dizem sobre a realidade, será levado a um mundo bizarro, no qual um gato pode estar vivo e morto ao mesmo tempo e em que partículas afetam instantaneamente umas às outras ainda que separadas por distâncias de milhões de anos-luz.

Niels Bohr e Albert Einstein em 1925
Niels Bohr e Albert Einstein em 1925 - Coleção Particular


Pior, é um universo no qual o ato de observar faz toda a diferença, determinando o comportamento de partículas —o que nos faz pensar sobre o que seria o universo antes que surgissem observadores. Enfim, as esquisitices são tantas que durante muito tempo vigorou na comunidade de físicos quânticos a abordagem apelidada de “cale a boca e calcule”.

O físico e filósofo Adam Becker, no delicioso “What Is Real?” (o que é real?), esmiúça as muitas controvérsias em torno da física quântica, que começaram opondo Albert Einstein a Niels Bohr, e discute suas implicações para a realidade.

Gostei particularmente da interface filosófica. Becker mostra que a chamada interpretação de Copenhague, que escolhe ignorar as bizarrices derivadas das equações, foi possível graças ao predomínio do positivismo lógico entre cientistas. Eram tempos em que fazia mais sentido ser instrumentalista, isto é, avaliar uma teoria científica apenas em função das previsões que ela faz, sem se preocupar se ela é verdadeira ou se descreve a realidade.

Para Becker, foi só depois que o positivismo mostrou-se pouco viável que os físicos abraçaram concepções mais realistas de ciência, fazendo com que a interpretação de Copenhague, ainda a dominante, sofresse mais contestações.

Não que o resultado seja menos bizarro. Uma das respostas mais populares às esquisitices quânticas é a teoria dos muitos mundos, que multiplica por algo como 10500 o total de universos que compõem a realidade.

 
 


 

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