Se rebobinássemos a fita da evolução e a fizéssemos correr novamente com mínimas alterações, chegaríamos aos mesmos resultados?
Foi o paleontólogo Stephen Jay Gould quem propôs esse experimento mental, ao qual respondeu com um sonoro “não”. Para Gould, no show da vida, a contingência bate a necessidade.
Outros biólogos, como Simon Conway Morris, que descobriu os bizarros fósseis de Burgess Shale, que deram origem à reflexão de Gould, discordam. Para essa ala, os caminhos da evolução são sempre previsíveis.
Jonathan Losos, de Harvard, acaba de lançar “Improbable Destinies” (destinos improváveis). No livro, ele até dá uma resposta —meio tucana, é verdade— à pergunta de Gould, mas vai muito além ao mostrar que não precisamos rebobinar a fita da vida para obter respostas.
Diferentemente do que pensava Darwin, a evolução não atua só em escalas de tempo geológicas, agindo às vezes muito rapidamente. Isso significa que é possível preparar experimentos que nos dão valiosas pistas sobre a previsibilidade da evolução. Vários deles já foram realizados e outros tantos estão em curso.
Losos nos guia por um mundo fascinante em que biólogos observam em câmara rápida a evolução e até a manipulam. Relata experimentos clássicos, como o dos Grants, envolvendo tentilhões de Galápagos, e o de Lenski, que registra mudanças ao longo de dezenas de milhares de gerações de bactérias, além de suas próprias descobertas envolvendo a evolução de lagartos anoles.
Essas experiências mostram que o fenômeno da convergência e outras determinações do mundo físico, se não transformam a evolução numa ciência exata, fazem com que ela opere com algum horizonte de previsibilidade.
Não dá para cravar que a fita da vida se repetiria “ipsis litteris” (quase certamente não se repetiria), mas podemos descartar como improváveis seres que se movem sobre rodas (biológicas) ou que extraem energia da fissão nuclear.
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