Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Descrição de chapéu

Só informação não basta

Ideia da Anvisa de melhorar a rotulagem de alimentos é mais complexa do que parece

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Quiosque em Santiago, no Chile, vende salgadinhos com alerta preto na embalagem que indica alto teor de gordura, açúcar e sal
Quiosque em Santiago, no Chile, vende salgadinhos com alerta preto na embalagem que indica alto teor de gordura, açúcar e sal - Victor Ruiz Caballero/The New York Times)

Merece apoio a iniciativa da Anvisa de melhorar a rotulagem dos alimentos, criando alertas para produtos com excesso de ingredientes nocivos à saúde como açúcares, sódio e gorduras. Receio, porém, que a questão seja mais complexa do que parece.

Acesso a informações corretas é fundamental, mas não basta. Quase todos os seres humanos sabem que fumar provoca uma lista telefônica de doenças e, ainda assim, 20% da população mundial com mais de 15 anos cultiva esse hábito.

Fumantes não estão nessa condição porque não atribuam valor à saúde. As preferências das pessoas variam bastante, mas há uma virtual unanimidade no que diz respeito a certos objetivos de longo prazo como manter a higidez, guardar dinheiro para a velhice etc.

O problema surge justamente porque há um descompasso entre as metas longínquas e nossos desejos imediatos. E os vieses cognitivos que trazemos de fábrica se encarregam de fazer com que as tentações triunfem sobre a ponderação. Por mais que tentemos evitar, nossos cérebros valorizam muito mais o presente do que o futuro e reputam qualquer perda como duas vezes pior do que um ganho no mesmo valor. Abrir mão da sobremesa gostosa agora em troca de alguns dias de vida quando tivermos mais de 80 anos não soa muito sedutor.

Apenas considerações racionais dificilmente nos levam a tomar as decisões certas, daí a necessidade de recorrer a outros expedientes. Há aqui duas escolas de pensamento.

Uma não vê maiores problemas em adotar medidas marcadamente autoritárias, como proibir o uso de drogas. A outra, à qual me filio, pretende que o poder público até pode dar alguns empurrõezinhos, sejam regulatórios (impostos, licenças de venda), sejam emocionais (fotos antitabagistas nos maços de cigarro), mas deixando sempre para o cidadão a decisão final. “Sobre si mesmo, o seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano”, escreveu John Stuart Mill.
 

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