Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Descrição de chapéu

Uma boa ideia

Um dever fundamental do cidadão de uma República democrática é resistir às provocações

O pré-candidato à Presidência Alvaro Dias durante sabatina realizada pela Folha, UOL e SBT
O pré-candidato à Presidência Alvaro Dias durante sabatina realizada pela Folha, UOL e SBT - Zanone Fraissat/Folhapress

O presidenciável Alvaro Dias (Pode-PR), ecoando posições já assumidas por Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Jair Bolsonaro (PSL-RJ), disse que as manifestações em defesa de Lula são uma provocação. Não chegou a justificar os tiros contra a caravana e o acampamento petistas, mas fez questão de dizer que aqueles que sustentam a candidatura do ex-presidente agem de forma afrontosa, porque a legalidade democrática o impede de concorrer ao cargo.

Minha leitura do episódio não poderia ser mais diferente. Se há algo que caracteriza a democracia, é o fato de que ela é o regime no qual as provocações são permitidas.

Numa democracia plena, as pessoas podem se reunir pacificamente para pedir qualquer coisa, da legalização das drogas, à defesa da família, passando por orações públicas e queimas da bandeira nacional. O Estado, como regra geral, não olha para o conteúdo da manifestação.

A implicação desse princípio basilar é que petistas podem organizar vigílias pela libertação de Lula e antipetistas podem desfilar com seu pixuleco por onde desejarem. O que nenhuma parte pode é agredir fisicamente o adversário, fazer disparos de arma de fogo etc.

Um dever fundamental do cidadão de uma República democrática é resistir às provocações e não partir para a briga cada vez que se depare com uma ideia da qual discorde, mesmo que ela o machuque lá no íntimo.

Essa, no fundo, é a fórmula de sucesso que nossa espécie vem perseguindo desde o Pleistoceno. 

O antropólogo Christopher Boehm sustenta que a civilização e a própria consciência moral humana são o resultado de um processo de autodomesticação social, no qual até machos dominantes aprenderam a exercer autocontrole. No começo, evitavam recorrer à força por temer retaliações do grupo, mas, com o tempo, isso acabou se tornando uma segunda natureza. Ficamos menos violentos e mais sociáveis. Essa, definitivamente, parece uma boa ideia.

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