Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Trump e a moral

Não dá para defender uma política que arranca crianças de suas famílias e as confina

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Donald Trump nunca foi uma unanimidade nacional. Para mais ou menos metade da população dos EUA, ele nunca passou de uma figura controversa, meio desprezível até, que transitava do palhaço ao valentão. Mas o presidente não havia ainda sido acusado —pelo menos não em larga escala— de opor-se aos valores americanos.

O caso dos filhos de imigrantes ilegais pode ter mudado isso. Com efeito, a decisão de separar famílias de imigrantes ilegais e a forma como o governo tentou justificá-la compõem um raro flagrante de violação ética em múltiplos níveis.

No plano mais concreto, não dá para defender como moral uma política que arranca crianças de suas famílias e as confina em campos que lembram prisões —ainda que sem notícia de maus-tratos. Os pais até podem ter infringido leis ao ingressar sem vistos nos EUA, mas os menores são inocentes e não é razoável que o Estado lhes imponha sofrimento devido a erros dos genitores.

Subindo um pouco na escala da abstração, a própria estratégia política de Trump pode ser classificada como imoral. Ele, afinal, tentou transformar as crianças num instrumento para forçar o Congresso a aprovar mudanças na legislação de imigração. Temos aqui uma clara violação ao imperativo categórico kantiano em sua segunda formulação, já que a molecada foi tratada não como um fim em si mesmo, mas apenas como um meio.

Para piorar, quando a opinião pública se voltou contra o governo, a Casa Branca responsabilizou a legislação democrata pelo descalabro e ainda usou a Bíblia (Romanos 13:1) para justificar sua posição. Difícil até imaginar forma mais covarde de eximir-se de responsabilidades, o que conta como terceira falta ética.

A boa notícia é constatar que, mesmo em tempos de alta polarização, é possível encontrar consensos sociais e que eles são vigorosos o bastante para fazer até um teimoso rematado como Donald Trump voltar atrás numa decisão equivocada.

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