Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Perdidos na matemática

Livro pode ser descrito como uma grande lavagem da roupa suja da física

Nossos cérebros têm uma inexplicável disposição para relacionar beleza com verdade. Até réus atraentes tendem a ser inocentados com mais frequência do que os feios.

Que o homem não seja um poço de objetividade é esperado. Mais incômodo é constatar que também os físicos, em tese treinados para buscar a verdade por trás das aparências, são vítimas desse viés.

​Destrinchar esse imbroglio é a missão de “Lost in Math” (perdidos na matemática), de Sabine Hossenfelder. A tese central da autora é que a física tem um corpo de regras não escritas que transforma princípios como naturalidade, simplicidade (ou elegância) e beleza em critérios para elaborar e avaliar teorias. O problema, diz Hossenfelder, é que não há nada menos científico do que isso. Em nenhum lugar está escrito que a natureza precisa ser bela ou elegante. 

A autocorreção que deveria vir pelos testes empíricos não está acontecendo e cientistas, cada vez mais, vêm propondo teorias cuja elegância matemática, acreditam eles, é grande demais para não conter um elemento de verdade. É por isso, sustenta a autora, que ideias quase impossíveis de testar, como a do multiverso e a das supercordas, prosperam e se tornam mais populares entre os físicos, ao preço de afastar a ciência de sua propalada objetividade.

Sim, “Lost in Math” pode ser descrito como uma grande lavagem da roupa suja da física, mas é um livro gostoso de ler, bem-humorado e informativo. Hossenfelder mostra, por exemplo, que a supersimetria (SUSY), outra teoria elegante para explicar a estrutura da matéria, insiste em não ser corroborada pelos testes, apesar de investirmos bilhões de dólares em aceleradores de partículas cada vez mais poderosos.

A ausência de assinaturas da SUSY nas supercolisões nos obriga a ir ficando com o Modelo Padrão, que é praticamente um Frankenstein tamanhas sua feiura e deselegância. O ponto é que, a menos que creiamos num Deus esteta, a natureza pode perfeitamente ser feia e complicada.

 
Sabine Hossenfelder, autora de 'Lost in Math' (perdidos na matemática)
Sabine Hossenfelder, autora de 'Lost in Math' (perdidos na matemática) - Reprodução
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