Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Descrição de chapéu Eleições 2018

Só dá gol contra

Cartolas cometem uma violência digna do volante Felipe Melo quando ameaçam puni-lo

Felipe Melo durante partida do Palmeiras contra o Cerro Porteño, em agosto deste ano
Felipe Melo durante partida do Palmeiras contra o Cerro Porteño, em agosto deste ano - Nelson Almeida/AFP

Não sou fã nem de Felipe Melo nem de Jair Bolsonaro, mas os cartolas do futebol cometem uma violência digna do volante palmeirense quando ameaçam punir o jogador por ter dado, em entrevista à Rede Globo, uma declaração de apoio ao candidato presidencial do PSL. 

Por razões estéticas, acho que atletas profissionais deveriam abster-se tanto de fazer comentários políticos como de celebrar seus feitos esportivos com demonstrações de religiosidade, mas é evidente que eles são livres para fazê-lo assim como o são para discordar de meus juízos estéticos. Enquanto perdurar por aqui o tal do Estado democrático e de Direito —que, infelizmente, está deixando de ser uma unanimidade—, a liberdade de expressão precisa ser respeitada.

O que mais me impressionou neste caso, porém, é a truculência regulatória do pessoal do esporte. Como não há no Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) um dispositivo explícito que permita suspender jogadores por manifestações políticas, a cartolagem cogita de recorrer ao artigo n° 258 do CBJD, que reza: “Assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificadas pelas demais regras deste Código”.

Esse preceito é juridicamente escandaloso. Ele basicamente diz que a Justiça Desportiva pode fazer o que quiser com os jogadores independentemente das regras. O princípio do “nulla poena sine lege” (não haverá punição sem lei anterior que a defina) foi solenemente ignorado. De parecido só me lembro do AI-5, baixado pelos militares em 1968.

Seja como for, é preciso reconhecer ao menos que os cartolas estão em sintonia com o Zeitgeist. Vivemos, afinal, tempos em que a Justiça Eleitoral multa cidadãos que se expressam mais desinibidamente sobre seus candidatos na internet e pretende até proibir clérigos de fazer manifestações políticas para seus fiéis. A prosseguir nessa toada, nem precisamos do Bolsonaro para acabar com a democracia.

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