Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu Eleições 2018

Segundo turno é outra eleição?

Com onda direitista que impulsionou Bolsonaro, vai ser difícil para Haddad reverter o quadro

Segundo turno é outra eleição, assevera o lugar-comum. O lugar-comum está errado. O segundo turno é sempre a continuação do primeiro, e a onda direitista que impulsionou Jair Bolsonaro nos últimos dias da disputa o colocou tão perto de uma vitória antecipada que vai ser muito difícil para Fernando Haddad (PT) reverter a situação.

Com efeito, faltaram a Bolsonaro apenas quatro pontos percentuais para sagrar-se presidente. Improvável que ele, só por gravidade, não atraia mais do que isso entre os cerca de 25 pontos que foram distribuídos a outros candidatos. 

Para triunfar, Haddad teria ou de trazer para o seu campo mais de 84% dos eleitores que ficaram órfãos ou conseguir desconstruir a imagem do rival, fazendo com que ele perca apoiadores. Não chega a ser impossível (e já vimos muita coisa estranha acontecer neste pleito), mas o petista tem diante de si uma tarefa monumental.

E, se a onda direitista permitiu que Bolsonaro surfasse na disputa presidencial, ela teve o efeito de um tsunami sobre o sistema partidário, que se fragmentou ainda mais. O número de legendas com representação na Câmara passou dos já elevados 25 para incríveis 30. A sigla com maior número de deputados tem pouco mais de 10% da Casa. No Senado o movimento foi semelhante. As legendas passaram de 16 para 21.

Todos os partidos grandes e a maioria dos médios encolheram. Os mais danificados foram MDB e PSDB. O grande fenômeno mesmo é o PSL, a legenda alugada por Bolsonaro, que passou de 8 deputados para 52.

É um quadro sombrio para o próximo presidente, seja ele qual for. O futuro mandatário terá um pouco menos da metade do país querendo defenestrá-lo e, ao mesmo tempo, precisará negociar com uma constelação de legendas a aprovação de medidas econômicas urgentes e impopulares, algumas das quais cobram a anuência de três quintos dos parlamentares. Se nada de pior acontecer, podemos esperar quatro anos de caos.

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