Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu Eleições 2018

Voto por amor

Possível 2º turno com os dois candidatos mais detestados indica uma anomalia eleitoral

Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), candidatos à Presidência da República
Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), candidatos à Presidência da República - Fotos Paulo Whitaker e Nacho Doce/Reuters

O paradoxo salta aos olhos. Os dois candidatos com mais chances de chegar à Presidência são também os mais detestados, o que não apenas é sinal de encrenca para a próxima administração como também indica que estamos diante de uma anomalia eleitoral.

Com efeito, parece ter havido uma antecipação do segundo turno, com Bolsonaro aglutinando os votos antipetistas, e Haddad amalgamando os sufrágios antibolsonaristas. O problema desse tipo de movimento é que ele esvazia os votos a favor que o cidadão quisesse dar.

Para este ano, já era. A regra de eleição para presidente é clara, antiga e não há nada de essencialmente errado no voto estratégico. A democracia, contudo, é uma obra em andamento e nada nos impede de discutir aperfeiçoamentos.

 

Existem vários sistemas de votação preferencial que evitam esse tipo de situação. Um deles é a contagem de Borda, à qual o colunista Marcelo Viana aludiu recentemente. Nela, o eleitor ordena os candidatos segundo sua preferência. O postulante que ficar em último lugar na lista recebe um ponto, o penúltimo, dois, e assim por diante. Aí é só somar as pontuações dadas por todos os eleitores.

É um pouco mais complicado que o sistema atual e, obviamente, só se torna prático com urnas eletrônicas. A vantagem é que o eleitor pode exprimir ao mesmo tempo o seu voto e o seu veto. Imaginemos que Marina, que desidratou ao longo da campanha, fosse a segunda opção da maioria. Num pleito à la Borda, ela estaria vivíssima na disputa, porque as rejeições a Bolsonaro e a Haddad seriam computadas.

Parece-me um sistema melhor, mas não devemos nutrir ilusões. Ele também tem seus pontos fracos. Aliás, a crer nas interpretações mais correntes do teorema da impossibilidade de Arrow, nenhum método de votação é justo e a própria ideia de escolha social sai chamuscada. Ainda assim, o bonito desse sistema é que, mesmo sem abrir mão do ódio, podemos votar por amor.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.