A Ilustríssima do último domingo publicou um interessante artigo sobre Egon Schiele (1890-1918), o pintor expressionista que retratava meninas nuas. E, como é quase inevitável em qualquer escrito sobre Schiele, o texto acaba entrando na questão dos limites entre arte erótica e pornografia.
Se eu fosse o ditador benigno do mundo, não chegaria a proibir debates em torno da distinção entre arte e pornografia, mas receio que essa discussão não faça muito sentido. Travá-la não costuma passar de uma tentativa de classificar as obras de que gostamos como eróticas e pôr as que julgamos vulgares na categoria de pornografia. Se há algo que o modernismo nos ensinou, é que não podemos estabelecer critérios muito rígidos para determinar o que é arte. Eles logo serão rompidos.
O ponto central é que a arte visa a provocar reações, de preferência estranhamentos, nas gentes que a contemplam. De uma perspectiva evolucionária, a arte, em particular a ficção, teria a função de nos preparar para enfrentar o mundo real, permitindo que experimentemos simulações e aprendamos com elas.
A experiência pode não ser tão intensa como na realidade e, embora isso atenue as sensações, também nos preserva dos perigos. Assistir no cinema a alguém sendo devorado por tubarões é mais seguro do que presenciar a cena “in loco”. No mundo animal, as brigas de brincadeira entre filhotes são uma forma de adestramento para a luta —e com risco relativamente baixo de ferimentos.
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