Podemos dividir os seres humanos em rousseauistas e hobbesianos. Os primeiros acreditam que o homem é bom, mas a sociedade o corrompe; os segundos acham que somos umas pestes e é a civilização que nos mantém na linha. Em “The Goodness Paradox” (o paradoxo da bondade), o primatologista Richard Wrangham (Harvard) aposenta essa dicotomia, dando razão a todos.
Para Wrangham, existem dois tipos de violência muito distintos: a reativa e a planejada. Elas diferem não só moral e juridicamente mas também no plano neurobiológico. No que diz respeito à violência reativa, os rousseauistas estão certos. O homem é o mamífero mais tolerante e pró-social de que se tem notícia. É verdade que às vezes nos irritamos com o próximo e podemos até matá-lo numa explosão de fúria, mas o fazemos numa escala incomensuravelmente menor do que a de nossos parentes mais próximos, não só que os belicosos chimpanzés como também os mais pacíficos bonobos.
Quando mudamos o registro da violência a quente para a premeditada, aí é Hobbes quem triunfa. Nossa capacidade de cooperar com aliados para matar aqueles que percebemos como inimigos é quase infinita.
Wrangham, numa prosa muito gostosa de ler, destrincha os mecanismos por trás de cada um dos dois tipos de violência e ainda apresenta uma hipótese bastante plausível para o homem ser ao mesmo tempo o mais pacífico e o mais violento dos primatas: a autodomesticação.
helio@uol.com.br
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