Conservadores gostam de atacar gays afirmando que sua orientação sexual é antinatural. Como o sexo entre dois machos ou duas fêmeas não gera filhos, ele violaria um imperativo básico da natureza.

A argumentação é falaciosa (falácia do apelo à natureza), mas, mesmo que não fosse, ela estaria biologicamente errada. Quem diz isso é Edward O. Wilson, conhecido por ter fundado a sociobiologia, em seu mais recente livro, “Genesis”.

Para Wilson, o comportamento não só de homossexuais como também de clérigos celibatários e até de avós pós-menopausa faz sentido do ponto de vista biológico, se pensarmos as comunidades humanas como eussociais, ou seja, caracterizadas pela ocorrência de sobreposição de várias gerações no mesmo ninho, de cuidado cooperativo com a prole e da divisão de tarefas entre castas de reprodutores e não reprodutores.

Em “Genesis”, Wilson reconta a história da biologia através das seis grandes transições da evolução (surgimento da vida, das células eucarióticas, da reprodução sexual, da multicelularidade, das sociedades e da linguagem). Seu foco principal é a eussocialidade.

Ela surgiu tarde e é extremamente rara. De vários milhões de espécies animais, menos de duas dezenas a desenvolveram. A maioria são insetos, mas também a encontramos em dois tipos de toupeira e, é claro, em humanos.

Wilson defende justamente a tese de que somos, a exemplo das formigas, uma espécie eussocial. Para tanto, recorre às avós e aos gays, além da noção de seleção atuando no nível do grupo, tese à qual aderiu nos últimos anos e lhe valeu uma enorme briga com a ala mais ortodoxa dos biólogos. A “traição” de Wilson incomodou porque ele havia sido um dos principais advogados da seleção por parentesco, que hoje renega.

Polêmicas à parte, “Genesis” é um texto gostoso de ler e cheio de surpresas do mundo natural. E ainda ajuda a quebrar um preconceito arraigado contra os homossexuais.