Uma das melhores provas de que o darwinismo é mais do que “apenas uma teoria” está no fato de que dele extraímos previsões que vêm —infelizmente— sendo corroboradas pela realidade. É o caso do prognóstico de que bactérias desenvolverão resistência a antibióticos.
Desde que Alexander Fleming isolou a penicilina em 1928, todas as categorias de antibacterianos tiveram, com o tempo, seus mecanismos de ação debelados por algumas linhagens de micróbios. Bactérias, mesmo de espécies não aparentadas, são capazes de passar umas às outras o material genético responsável pela resistência a uma droga.
O custo em vidas humanas não é pequeno. Um estudo do governo britânico estima que, em escala global, os óbitos por cepas resistentes já cheguem a 700 mil por ano. E as coisas têm piorado. Além das bactérias, já estão surgindo fungos resistentes, como a Candida auris.
Se o fenômeno da resistência está inscrito nas leis da biologia, o ritmo em que ele ocorre está sujeito às ações dos homens. O uso exagerado de antimicrobianos, ao elevar as pressões seletivas, acelera a resistência. A dificuldade dos hospitais de fazer suas equipes realizarem uma antissepsia adequada facilita a troca dos plasmídeos que “ensinam” as bactérias a se defender das drogas.
Há o que fazer. Banir o uso de antibióticos da indústria da carne é uma medida óbvia. O filé, é claro, ficaria um pouco mais caro. Outra providência útil seria exigir que hospitais informassem o público quando lidam com surtos de micróbios resistentes. O risco aí seria ver pacientes deixando de fazer procedimentos necessários por medo de contágio.
Qualquer solução passa por um esforço multinacional de ações coordenadas. O crescente número de governos isolacionistas e até antidarwinistas não dá razões para otimismo. Há urgência. O estudo britânico calcula que, se nada for feito, em 2050, as mortes por infecções resistentes chegarão a 10 milhões ao ano, superando os óbitos por câncer.
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