Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Criatura ou espécie?

Anúncio de relatório da ONU é uma oportunidade para lançar questões filosóficas

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Novo relatório da ONU estima que pelo menos 1 milhão de espécies animais ou vegetais estão sob risco de extinção. O motivo principal é a interferência humana sobre o ambiente, que assume formas diversas, como mudança climática, derrubada de florestas etc.

O quadro é preocupante, porque o desaparecimento súbito de várias espécies gera desequilíbrios que nos afetam negativamente.

Aproveito, porém, enquanto o Bolsonaro não acaba com as humanidades, para bagunçar um pouco a cabeça do leitor com questões filosóficas.

Por que diabos ligamos para espécies? Há uma dimensão narcísica aí, já que espécies, a rigor, não existem, sendo apenas uma abstração humana, resultante de nossa obsessão em catalogar as coisas. Na natureza, o que encontramos é um contínuo de seres vivos que partilham mais ou menos semelhanças. Lembre-se de que tudo o que é vivo descende de um único ancestral comum e de que você, leitor, reparte cerca de 60% de seus genes com as bananas.

No mais, o destino do indivíduo não se confunde com o da espécie. Uma espécie muito bem-sucedida é a das galinhas, cuja população supera 20 bilhões. Mas a maior parte dessas aves leva uma existência miserável, em que tudo o que conhecem é sofrimento em escala industrial.

E será que o elefante selvagem, ou qualquer outro bicho que tenha uma vida boa, sem muitas inquietações filosóficas, liga se existem mais indivíduos como ele em outros lugares do planeta? O mais provável é que não. Aqui, eu fecho com a filósofa Christine Korsgaard, para quem são apenas as criaturas, e não as espécies a que elas pertencem, que podem ter interesses legítimos.

Embora gostemos de pensar a proteção das espécies como um gesto altruísta, é difícil livrá-lo do egoísmo instrumental. Queremos manter o planeta como está porque isso nos convém. Num plano mais geral, grandes extinções são parte do jogo. Mamíferos só prosperamos porque os dinossauros desapareceram.

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