Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Hierarquia animal

Não hesitamos em matar mosquitos, mas nos revoltamos com a morte de baleias. Por quê?

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A maioria de nós não hesita em matar mosquitos, mas se revolta quando vê os terríveis noruegueses perseguindo com seus arpões as simpáticas baleias. Por quê? Diferentes filósofos morais vêm oferecendo diferentes respostas, que nunca são plenamente satisfatórias.

Uma solução particularmente engenhosa é a proposta por Shelly Kagan, de Yale, no recém-lançado “How to Count Animals”. O ponto de chegada do autor fica bem perto das inclinações naturais da maioria das pessoas, já que nos autoriza a nos livrar de insetos e escorpiões sem maiores dramas de consciência e nos oferece razões para rejeitar o péssimo tratamento hoje dispensado a uma série de bichos que nos parecem mais bacanas. O caminho que Kagan escolhe para fazer isso, porém, é dos mais controversos, já que ele adota uma abordagem hierárquica, na qual cada grupo de animais goza de um status moral diferente.

Pescadores na Islândia abrem baleia - Halldor Kolbeins - 19.jun.2009/AFP

Para a maior parte dos filósofos que defende uma ética animal, o que permite traçar distinções entre, por exemplo, baratas e homens não é o status moral de cada espécie —que seria sempre o mesmo—, mas o nível de senciência ou de consciência de cada indivíduo.

Kagan mostra algumas das incongruências dessa posição mais comum e abraça a abordagem hierárquica. É um passo arriscado, pois, se há uma hierarquia entre bichos, e ela está fundada na capacidade mental, por que não defender então uma hierarquia entre humanos baseada, por exemplo, na inteligência? O autor, obviamente, rejeitará esse tipo de argumento.

O ponto forte do livro é a forma absolutamente metódica com que Kagan desenvolve seus raciocínios, antecipa objeções contra suas próprias teses e as responde, quase sempre com bom nível de detalhamento. Esse rigor argumentativo, bem típico da filosofia analítica norte-americana, torna a leitura até um pouco árida, mas a contrapartida é uma clareza que não é tão comum em textos filosóficos.

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