Alemães adoram carros envenenados que precisam de boas estradas e uma regulação favorável para exibir sua potência. Essa é a principal explicação para uma das particularidades alemãs que mais chamam a atenção de estrangeiros: não há limite de velocidade nas "Autobahnen", as autoestradas do país. E não é incomum ver veículos trafegando bem acima dos 200 km/h.
É claro que alemães são alemães, e a ausência de limites não os impede de ter um dos trânsitos mais seguros da Europa, com taxa de 3,9 mortes por cem mil habitantes por ano (no Brasil, são 23,4).
O zelo dos alemães por suas estradas "livres" é tanto que já foi comparado ao amor com que os americanos cultivam o direito de andar armados, consagrado na segunda emenda à Constituição. É nesse contexto que o "Bundestag", o parlamento germânico, acaba de derrotar, por ampla margem, um projeto de lei que estabeleceria nacionalmente a velocidade máxima de 130 km/h.
Apesar do resultado e do intenso lobby de Mercedes, Audi, BMW, leio na revista The Economist que a particularidade alemã está com os dias contados. A pressão vem principalmente dos ecologistas. Além de as altas velocidades implicarem a emissão adicional de carbono, elas inibem a transição dos carros movidos a combustíveis fósseis para os elétricos. É em marcha ultrarrápida que o desempenho dos veículos elétricos é bem pior do que o dos que usam petróleo.
De todo modo, como os mais jovens ligam cada vez menos para carros, e os verdes estão se tornando uma força política mais poderosa, é questão de tempo até que algum tipo de limite seja imposto. Aí só restarão Coreia do Norte, Afeganistão, Somália e outros poucos do mesmo naipe entre as nações que se recusam a limitar a liberdade de motoristas de pisar no acelerador até o fundo. Só espero que Bolsonaro, em sua implicância contra os radares, não nos coloque nesse seleto grupo de países.
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