Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Como enfrentar a epidemia?

Em 2002-3, o democrático Canadá lidou melhor com a Sars do que a ditatorial China

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Qual o melhor sistema político para enfrentar a epidemia provocada pelo novo coronavírus? O modelo centralizador-autoritário chinês, que faz as coisas acontecerem rapidamente, ou o das democracias ocidentais, que põem limites à atuação de autoridades e privilegiam o livre fluxo de informações?

Não há como não se impressionar com a capacidade de mobilização da China, que constrói um hospital de mil leitos em seis dias, ou com a assertividade de seus dirigentes, que não hesitam em pôr milhões sob quarentena. Mas o sistema chinês saiu em desvantagem. A forma arbitrária com que o poder é exercido ali estimula autoridades locais a esconderem problemas. Ao que tudo indica, foi o que fizeram inicialmente em Wuhan, retardando a percepção da gravidade do surto.

Quarentenas forçadas, embora sejam desde o século 14 a resposta automática de autoridades a epidemias, funcionam melhor ou pior dependendo das características da doença. Elas têm mais chance de conter a moléstia quando a capacidade do patógeno de gerar novas infecções a partir de um paciente (o R0, em epidemiologuês) é baixa e quando a transmissão só ocorre após o aparecimento dos sintomas.

O novo coronavírus, porém, vai dando indícios de ser contagioso mesmo em fase assintomática e espraiar-se com certa facilidade, provocando, na maioria dos doentes, quadros benignos ou até subclínicos. Aí, quarentenas tendem a ser inúteis, quando não contraproducentes.

A resolutividade chinesa seria útil num improvável cenário distópico, em que fosse preciso pôr tropas para caçar infectados e conter rebeliões. Mas, quando a perspectiva mais realista é a de que a epidemia não apresente letalidade muito maior do que a de uma má temporada de gripe, parece mais sensato apostar no bom fluxo de informações e num sistema de saúde no qual as pessoas confiem. Em 2002-3, o democrático Canadá lidou melhor com a Sars do que a China ditatorial.
 

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