Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman

Os padres e os esquisitões

Ao impor idiossincrasias matrimoniais, os padres solaparam as bases do sistema de clãs e famílias estendidas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

“Weird”, em inglês, significa “esquisito”. Em psicologuês é o acrônimo para “western, educated, industrialized, rich and democratic”. O jogo de palavras tem uma explicação.

Professores de universidades de países ocidentais, industrializados, ricos e democráticos costumavam fazer experimentos psicológicos com seus alunos e tomavam os resultados como válidos para todo gênero humano. Não são. Essa população estudantil é que é a “esquisita”, isto é, minoritária no planeta, tanto em termos numéricos como em relação às características psicológicas que apresenta.

Essa descoberta levantou um problema interessante: como os países “weird” se tornaram “weird”? O antropólogo Joseph Henrich (Harvard) oferece uma linda resposta à questão em “The WEIRDest People in the World”, um dos grandes livros do ano.

Resumindo 700 páginas em poucas frases, a culpa é dos padres. Eles não tinham a menor ideia do que estavam fazendo, mas, ao vetar o casamento entre primos e impor outras idiossincrasias matrimoniais, acabaram solapando as bases do sistema de clãs e famílias estendidas.

Quadro "Family Portrait", de Anthonie Palamedes, pintado em 1635
Quadro "Family Portrait", do holandês Anthonie Palamedes, pintado em 1635 - Anthonie Palamedes/Royal Museum of Fine Arts Antwerp

Essas mudanças tiveram consequências não só na forma de organização social (família nuclear neolocal, crescimento das cidades e das guildas) mas principalmente psicológicas. Ao longo dos séculos, os europeus foram ficando mais individualistas, passaram a favorecer o pensamento analítico, a crer no livre-arbítrio e a condenar práticas como o nepotismo. Daí à ciência e à prosperidade material do Ocidente foi só um pulinho.

Henrich é um antropólogo cultural, mas da vertente que se apoia em números e acredita em hipóteses que possam ser refutadas por evidências empíricas. A consequência disso é que o livro está amparado em muita pesquisa e muitos dados. A exposição detalhada às vezes torna a leitura pouco dinâmica, mas a originalidade e os “insights” apresentados mais do que compensam.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.