Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Parabéns aos argentinos

Cabe à mulher, não a seus vizinhos, definir se ela vai ou não levar uma gravidez adiante

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A Argentina legalizou o aborto. Isso é bom ou é mau? Para afirmar peremptoriamente que é mau, como fazem muitos religiosos e alguns não religiosos, é preciso postular alguma forma de realismo moral, isto é, sustentar que o certo e o errado são realidades objetivas e acessíveis às pessoas e que a interrupção voluntária da gravidez se insere na coluna dos erros. Não creio que seja tão fácil.

Para os religiosos menos sofisticados, o realismo é um dado: Deus nos revelou nas Escrituras uma moral eterna; cabe-nos apenas obedecê-la. É claro que as coisas não são tão simples, e não falo apenas das contradições e omissões mais flagrantes dos textos sacros. As complicações do realismo assombram até os que têm uma visão mais sofisticada dos problemas. Basta lembrar que foi apenas dois anos atrás que a Igreja Católica resolveu condenar a pena de morte.

O interessante é que não são só religiosos que caem na tentação de abraçar o realismo moral como antídoto às formas mais virulentas de relativismo. Intelectuais como Sam Harris e Michael Shermer defendem que é possível reconhecer verdades morais com base em diferentes blends de darwinismo e utilitarismo. Não me convencem muito.

É claro que há limites lógicos e biológicos para o relativismo. Uma sociedade que condenasse o sexo em todas as modalidades e circunstâncias não teria muito sucesso evolutivo. Mas nem toda questão moral tem implicações tão vitais. Aliás, se a hipótese do realismo for a correta, nem existiriam controvérsias morais genuínas. Todas elas seriam solucionadas apenas levantando-se a informação certa.

Não vejo como escapar à ideia de que a moral é sempre histórica e socialmente determinada, com espaço para algum relativismo. E não tenho muita dúvida de que, no mundo em que vivemos hoje, cabe à mulher, não a seus vizinhos, definir se ela vai ou não levar uma gravidez adiante. Parabéns aos argentinos.

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