Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Fiquem em casa! Quero minha mulher de volta

Médica intensivista, minha companheira foi sequestrada pela epidemia

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Fique em casa, porque eu quero a minha mulher de volta. Sim, leitor, é isso mesmo. Se as mais de 340 mil mortes por Covid-19 ainda não o convenceram de que é preciso que nos recolhamos para restringir ao máximo as oportunidades de espalhamento do vírus, faça-o por este pobre colunista, cuja companheira foi sequestrada pela epidemia.

Intensivista e cardiologista, Josiane dirige um dos hospitais-catástrofe da cidade de São Paulo. Isso significa que está há mais de um mês trabalhando de domingo a domingo, atendendo a pacientes, intubando-os e, pior, dando notícia de óbito a familiares. Como eu e meus filhos mudamos para o sítio, praticamente só vejo Josiane por computador. Confesso que já fugi algumas madrugadas para encontrá-la, mas menos do que desejaria.

Meu ponto é que o tão temido colapso da rede já chegou. Como não há uma definição oficial de colapso hospitalar, cada um usa a que prefere. Para alguns, ele ocorre quando a lotação das UTIs ultrapassa os 100%; para outros, quando faltam oxigênio ou drogas essenciais. Prefiro o conceito mais amplo, segundo o qual o sistema colapsa quando a qualidade da assistência oferecida cai substancialmente —e isso já ocorreu.

Não há um motivo preciso, mas uma série deles. As redes de saúde se desdobraram nas últimas semanas para criar leitos para Covid-19. As vagas apareceram, mas a um preço.

Se, no começo da epidemia vimos a mortalidade da Covid-19 cair, porque os médicos aprenderam a manejar o paciente grave, assistimos agora a um aumento da letalidade, já que há um número maior de doentes, que chegam em pior estado, sendo atendidos por equipes cada vez menos especializadas e mais exauridas, física e emocionalmente. Josiane não é a única profissional que está fazendo jornadas absurdas.

A menos que consigamos derrubar a circulação do vírus, esse pesadelo não vai acabar —e eu vou continuar sem minha mulher.

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