Já confessei aqui que sou vítima fácil do algoritmo da Amazon, que parece ser capaz de saber antes de mim em que livros vou gastar meu dinheiro, tornando cada indicação de compra quase irresistível. Pois bem, o algoritmo errou, fazendo uma sugestão “nada a ver”, eu “paguei para ver” e gostei.

Estou falando de “Why We Swim” (por que nadamos), da jornalista americana Bonnie Tsui. Disse que a sugestão era “nada a ver” porque a natação não é meu esporte. Até gosto de brincar na água e de praticar mergulho autônomo, mas nunca me interessei por ficar dando braçadas numa raia nem por travessias oceânicas. Não teria motivação para ler um livro sobre natação.

“Why We Swim”, porém, prendeu minha atenção. Ele tem algo da cultura de almanaque, já que a autora faz um “pot-pourri” em que mistura história, ciência, jornalismo e memórias, nos brindando com um amplo rol de informações interessantes, ainda que inúteis.

Você sabia que o primeiro nadador a atravessar o canal da Mancha, em 1875, morreu alguns anos depois tentando cruzar o rio Niagara logo abaixo das cataratas de mesmo nome? Ou que, depois que as cortes americanas ordenaram a dessegregação, as então ubíquas piscinas públicas entraram em decadência e os ricos começaram a construir clubes e piscinas domésticas?

É claro que nem tudo fica tão solto. Tsui organiza o livro em torno de cinco funções da natação: sobrevivência, bem-estar, comunidade, competição e fluxo. A narrativa, que começa objetiva, recorrendo a evidências arqueológicas e trabalhos sobre a hipotermia em humanos, vai se tornando cada vez mais literária e pessoal, com a citação de clássicos e a evocação de memórias.

E é tudo muito bem escrito. Não me arrependi de ler o que normalmente não leria. Algoritmos são ótimos porque facilitam nossas vidas, mas, ao fazê-lo, nos fazem perder de vista aquilo que nem experimentamos. Ainda bem que erram.