Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Só se pode filosofar em alemão?

As diferenças entre as línguas mostram muito mais o que há de comum entre todas as pessoas do que o que as distingue

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É verdade que só se pode filosofar em alemão? Heidegger chegou a dizer algo assim, acrescentando que o grego é outro idioma que se presta a essa atividade. Para o filósofo da Floresta Negra, essas são as duas línguas mais próximas do Ser.

A tese de Heidegger é um caso extremo da ideia de que a língua determina o pensamento. É uma hipótese tentadora. Tendemos a concordar com ela, já que temos dificuldade para conceber pensamentos sem a intermediação da linguagem. Em linguística, ela leva o nome de hipótese Sapir-Whorf (SWH).

Não lembro o que pesquisava que me levou a um artigo do linguista John McWhorter. Gostei do que li e fui atrás de seus livros. Foi assim que cheguei a “The Language Hoax”, que dinamita a SWH. Mas o faz com elegância.

McWhorter começa reconhecendo que as intenções de Benjamin Whorf (1897-1941), seu principal proponente, eram as melhores. Ele tentava mostrar que línguas ameríndias como o hopi não eram inferiores aos idiomas europeus. Era uma época em que os dicionários definiam “apache” como povo belicoso e de pouca cultura.

O autor também louva a atual produção científica de inspiração whorfiana. São trabalhos como os de Guy Deutscher e Lera Boroditsky, que mostram que, em determinadas condições, as distinções que uma língua nos força a fazer afetam o pensamento.

Falantes de russo, que tem nomes específicos para o azul claro e azul escuro, identificam essas cores 124 milissegundos mais rápido que usuários de outros idiomas. É um achado com interesse acadêmico, mas que fica muito aquém de alterar nossa cognição ou determinar nossas capacidades filosóficas.

A partir daí, McWhorter nos conduz num belo passeio pela linguística, desfazendo equívocos comuns, além de mostrar os absurdos a que versões fortes da SWH nos levariam.

As diferenças entre as línguas mostram muito mais o que há de comum entre todas as pessoas do que o que as distingue.

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