Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Vale tacar fogo no Borba Gato?

Qualquer que seja a razão para odiar a estátua, incendiá-la é péssima ideia.

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Não faltam razões legítimas para alguém desejar que essa estátua, erguida no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, desapareça.

Para começar, ela homenageia um bandeirante. Confesso que nunca entendi a obsessão de meus conterrâneos paulistas pelas bandeiras. Se é verdade que os sertanistas que lideravam essas expedições ao interior do Brasil colonial podem ser descritos como desbravadores que trouxeram riquezas para o país —essa era a interpretação historiográfica predominante quando eu era criança—, é igualmente verdade que eles dedicavam boa parte de seus esforços a escravizar índios e a caçar escravos fugidos --atividades cuja moralidade pode ser contestada não só hoje mas também na época em que ocorreram.

Também é possível desgostar da estátua por motivos estéticos. Justa ou injustamente, o Borba Gato é tido como uma das coisas mais feias de São Paulo. Não entro nessa polêmica.

Qualquer que seja a razão para odiar a estátua, incendiá-la é péssima ideia. Em primeiro lugar, não se faz uma fogueira de 13 metros no meio da rua sem colocar pessoas em perigo. Em segundo, mesmo que toda a sociedade concorde que não devemos mais celebrar bandeirantes, isso não significa que estátuas (que são patrimônio público) devam ser destruídas.

Meu furor preservacionista tem uma explicação histórica. Sempre que grupos imbuídos de certezas morais se tornam majoritários, não hesitam em apagar as marcas da ideologia anterior, causando grandes prejuízos para as artes e a historiografia. Foi o que fizeram recentemente o Taleban e o Estado Islâmico ao destruir sítios arqueológicos de culturas pré-islâmicas. Foi o que fizeram cristãos nos primeiros séculos do primeiro milênio, ao vandalizar templos e esculturas e queimar livros pagãos.

Como desconfio de certezas, prefiro manter as estátuas intactas, ainda que relegadas a parques dos enjeitados ou escondidas nos porões de museus.

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