Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu indígenas

Fora com os missionários em terras de índios isolados

A crença em Tupã goza da mesma proteção do Estado que a crença no Deus cristão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A bancada da Bíblia está em pé de guerra com o ministro Luís Roberto Barroso, do STF. O magistrado acaba de reafirmar uma decisão da corte que proíbe, durante a pandemia, missões religiosas de entrar em território de índios isolados ou de contato recente. Na opinião dos pios parlamentares, a decisão é “claramente orientada por ideologia declaradamente anticristã” e promove “perseguição religiosa”.

Besteira. O Supremo não proibiu apenas missionários cristãos de contatar os índios, mas “quaisquer terceiros, inclusive membros integrantes de missões religiosas”. Na verdade, ao esclarecer o alcance da decisão, Barroso até que pegou leve com os cristãos, pois permitiu que as missões que já estavam nas aldeias antes da epidemia nelas permanecessem.

Fieis deixam a Igreja Batista Fundamentalista Cristo É Vida em Atalaia do Norte, no vale do Javari (AM) - Lalo de Almeida - 16.jul.2021/Folhapress

Na minha modesta opinião, tratando-se de índios isolados ou semi-isolados, o correto seria proibir, em qualquer tempo, não só na pandemia, quaisquer contatos, principalmente os de missionários. Exceções só para emergências. Se uma equipe médica entra na aldeia para debelar um surto de cólera, por exemplo, e sai em seguida, estamos diante de uma interferência à qual a cultura indígena pode sobreviver.

Já o missionário, quando chega a uma aldeia, vai com o propósito específico de destruir a cultura local. Ele, afinal, dirá que tudo aquilo em que os índios sempre acreditaram está errado. E a morte da cultura, como sabemos, é o prelúdio do alcoolismo, do suicídio e outras mazelas que costumam afetar índios aculturados.

O Estado é laico, o que significa que, independentemente do número de deputados evangélicos, a crença em Tupã goza da mesma proteção que a crença no Deus cristão. Aliás, como Michael Shermer sempre lembra, nos últimos 10 mil anos, os homens produziram cerca de 10 mil religiões com ao menos mil deuses. Qual é a probabilidade de que Jeová seja o verdadeiro e Zeus, Baal, Brahma, Odin, Tupã e mais 994 sejam todos falsos?

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.