Deu no New York Times. Preocupado com o iliberalismo e o ímpeto censório prevalente nas mais prestigiosas universidades americanas, um grupo de acadêmicos decidiu fundar uma nova instituição, a Universidade de Austin (UATX), sem lugar para cancelamentos, boicotes, desconvites, autocensura e outras práticas que têm se espalhado pelos "campi" contemporâneos.
A UATX pretende oferecer já no ano que vem cursos que não valem créditos sobre temas culturalmente explosivos e logo em seguida lançar um programa de mestrado. Até 2024, espera abrir cursos de graduação.
Vejo a iniciativa com simpatia, muito embora não esteja entre aqueles que militam contra o politicamente correto. Acredito que ele é o sintoma --às vezes exagerado, é verdade-- de um movimento civilizatório, de aceitação de minorias e grupos antes excluídos. Vou um pouco mais longe e afirmo que as pessoas de um modo geral podem reagir com o fígado a ideias das quais discordem. Embora não considere uma boa estratégia, entendo o comportamento do judeu que não compra produtos alemães ou o do palestino que boicota os israelenses. Mas, se há alguém que não pode adotar esse tipo de atitude, são justamente os estudantes universitários.
Eles, afinal, precisam mais do que ninguém se expor às ideias de que discordam, especialmente das que lhes pareçam mais ofensivas. Sem isso, não há como forjar mentes críticas, o objetivo mesmo da educação superior. Sua situação é análoga à do policial ou do bombeiro, que têm o dever legal de enfrentar o perigo, não podendo alegar estado de necessidade para furtar-se a ele.
Desde Platão e Aristóteles sabemos que a inquirição filosófica tem início com o "thaumázo". O verbo grego é normalmente traduzido como "admirar-se, maravilhar-se", mas significa também "surpreender-se, espantar-se" e até "assustar-se". A ideia básica é que não há reflexão se não sairmos de nossa zona de conforto.
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