Por que mulheres ganham menos do que homens? Machismo, responderão quase todas as mulheres e boa parte dos homens. Não discordo, mas vale investigar os mecanismos pelos quais a disparidade salarial ocorre. Eles talvez não sejam os que a maioria imagina.
"Career & Family", da economista Claudia Goldin (Harvard), lança muitas luzes sobre o fenômeno. Goldin analisa com toneladas de dados a evolução das carreiras de mulheres que obtiveram títulos universitários nos EUA desde a virada do século 19 para o 20 até hoje. Goldin mostra como sucessivas gerações foram acumulando conquistas.
O livro fica interessante mesmo quando analisa os tempos atuais. No início da carreira, quase não há disparidade de gênero. Homens e mulheres ganham o mesmo. Mas a mediana dos salários começa a divergir assim que as mulheres retornam da lua de mel. Por quê? Empresários machistas? Pode ser, mas é improvável que essa seja a causa principal. Afinal, há cada vez mais leis e até incentivos de mercado à igualdade salarial.
Para Goldin, a resposta está na disponibilidade. Homens ganham mais porque as empresas e cargos que pagam mais exigem completa dedicação de seus profissionais, que devem estar prontos a abandonar tudo a qualquer instante para socorrer a firma. Esse nível de dedicação é pouco compatível com filhos (ou com parentes idosos doentes) e em geral é a mulher que se encarrega do plantão familiar.
Curiosamente, o gap salarial é inexistente para mulheres que se mantêm solteiras, mas reaparece para um dos membros de casais homossexuais de qualquer gênero. Quem fica no plantão familiar acaba trabalhando menos e/ou optando por empresas que não pagam os apetitosos adicionais de dedicação total.
Não vejo problema em chamar essa situação de machismo estrutural, mas é importante frisar que eliminar a disparidade está em tese ao alcance de qualquer casal que decida fazer um arranjo diferente.
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