Nazismo e comunismo se equivalem? Comecemos pelas semelhanças. Ambas as ideologias deram origem a regimes totalitários que mataram milhões. Para os que sucumbiram talvez não haja mesmo muita diferença. Mas, para os que ainda estamos aqui e nos interessamos em analisar motivações, há uma distinção capital, que coloca o nazismo num patamar superior ao do comunismo real na escala da perversidade.

Regimes comunistas eliminavam seus inimigos porque eles eram percebidos como contrarrevolucionários. Ao menos em teoria, se o dissidente pensasse e agisse de outra forma, ele deixaria de ser um adversário e poderia até ter seu lugar no paraíso socialista a ser construído. O eufemismo usado nos gulags era reeducação. Não se negava ao opositor o pertencimento à humanidade.

O nazismo, sem deixar de eliminar quem fosse tido como inimigo político, montou um sistema industrial para assassinar aqueles que via como membros de raças inferiores, caso de judeus e ciganos. E não havia nada, na teoria nem na prática, que judeus e ciganos pudessem fazer para deixar de ser judeus e ciganos. O que diferencia o antissemitismo racial exercido pelos nazistas de outras formas de antissemitismo é o essencialismo. A raça de uma pessoa é um traço que só pode ser apagado com a eliminação do próprio indivíduo. Não era assim que funcionava o antissemitismo religioso praticado, por exemplo, na península Ibérica. Ali, judeus puderam escapar à fogueira convertendo-se. Muitos o fizeram.

O essencialismo, definido como a tendência humana a ver uma natureza oculta nas coisas e procurar marcas que a revelem, é uma faca de dois gumes. Por um lado, ele faz com que nos tornemos observadores e classificadores atentos. E há valor adaptativo em não confundir alface com cicuta. Mas também é ele que fornece a base psicológica para fenômenos como o racismo.

Nenhum dos dois presta, mas Hitler é pior do que Stálin.