Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Até quanto autoridades podem roubar?

Qual valor abaixo do qual os casos de corrupção não devem nos preocupar?

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Embalado pela prisão de Milton Ribeiro, escrevi na semana passada uma coluna sobre a corrupção no entorno de Jair Bolsonaro. Vários leitores me recriminaram por não ter feito uma comparação entre os valores que teriam sido desviados na atual gestão e os surrupiados sob a administração petista. De fato, não me debrucei sobre o problema. Até onde é possível analisar, o esquema do petrolão era mais amplo e sofisticado e deve ter resultado em montantes maiores. A proverbial incompetência do governo Bolsonaro vale também para a corrupção.

Não é esse, porém, o ponto que me parece mais interessante. Podemos criticar a corrupção tanto pelo aspecto moral como pelo pragmático. Sob o primeiro critério, valores são irrelevantes. Vale lembrar que uma prostituta que cobre R$ 1 milhão pelo programa não é ontologicamente diferente de uma que cobre R$ 100. Quem discorda dessa avaliação precisa apontar qual é o valor abaixo do qual casos de corrupção envolvendo presidentes e seus familiares não precisam nos preocupar. R$ 100 mil? R$ 1 milhão?

O presidente Jair Bolsonaro está de pé em uma foto, ao lado de três homens, todos vestem terno e camisa branca, na tela o texto "Bolsonaro, pastores e barras de ouro"
Cena do vídeo 'Operação da PF aponta corrupção no MEC, e áudios indicam interferência de Bolsonaro em investigações' - TV Folha

Do ponto de vista pragmático, cifras não chegam a ser desimportantes, mas tampouco são a história toda. É claro que cada centavo de dinheiro público que vai indevidamente parar em bolsos privados é um centavo a menos em saúde, educação e outros serviços relevantes.

A questão é que o montante desviado é só uma parte —e não a maior— dos males causados pela corrupção. Ela também perverte a lógica dos investimentos. Você faz a melhoria A na escola B não porque é dela que a população mais precisa no momento, mas porque esse é o interesse do clérigo C que entrou em conluio com o político D. Paga-se caro por coisas de que não há necessidade. É difícil calcular o custo dessas oportunidades perdidas, mas ele é enorme.

Em qualquer caso, não penso que o princípio da insignificância se aplique a altas autoridades metidas com corrupção.

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