Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Nova religião secular

Militante negro diz que antirracismo virou religião

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É bom o último livro de John McWhorter. Mas, antes de comentar "Woke Racism", talvez seja bom falar um pouco sobre o autor. McWhorter é um linguista de primeira. Especializado em idiomas crioulos, dá aulas em Columbia. Antes, lecionou em Cornell e na Universidade da Califórnia, Berkeley. É colunista do New York Times. McWhorter pode ser descrito como um homem de esquerda. Sempre apoiou os democratas e defende o direito ao aborto e a legalização das drogas. É ateu. Mais importante, McWhorter é negro e pode ser descrito como um militante contra o racismo.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 3 de julho de 2022, mostra, sob fundo azul escuro, uma cena que tem, ao centro, uma mulher e uma menina negras; a menina, provavelmente a filha, usa vestido verde, meias brancas e sapatos pretos; ela segura uma boneca branca e loira na mão direita enquanto roe as unhas da mão esquerda, o rosto exprimindo medo e tensão; a mãe, ao seu lado, usa vestido amarelo, bolsa e sapatos pretos; sua expressão é tensa, com a mão direita fechada em punho sobre o peito e a esquerda acarinhando as costas da criança; do lado esquerdo da cena, várias mãos negras apontam os dedos para as duas.
Annette Schwartsman

"Woke Racism" é um livro incômodo porque nele McWhorter bate forte no antirracismo de terceira geração, que vem ganhando espaço na esquerda cultural americana. Para ele, ao contrário do antirracismo de primeira e segunda gerações, que lutou pelos direitos civis e trouxe ganhos para a qualidade de vida dos negros, o de terceira está fazendo mal às comunidades e à própria sociedade americana, que não consegue mais debater certas questões. McWhorter diz que o novo antirracismo se tornou uma religião. Não se trata de figura retórica. Para o autor, o movimento "woke" tem todos os elementos que um antropólogo precisaria para considerá-lo uma religião secular, com dogmas fora do alcance da lógica e sessões de cancelamento de "heréticos" conduzidas com fervor evangélico.

Segundo McWhorter, melhor do que perseguir e cancelar pessoas que ousam discordar da nova ortodoxia antirracista seria buscar medidas concretas que contribuam para reduzir a desigualdade racial. Ele cita especificamente o fim da guerra às drogas e reformas educacionais, notadamente a adoção do método fônico no processo de alfabetização e a valorização do ensino profissionalizante.


Vale a pena ler a obra nem que seja para dela discordar. Afinal, rejeitar uma tese sem nem mesmo analisá-la racionalmente é atitude típica de religiosos, não de intelectuais.

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